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Amanda Gurgel: o professor é um profissional muito mais importante para a sociedade do que um político

02/08/2013 - 10:21

Josué

 Ao fazer um “protesto-desabafo” sobre as condições precárias de trabalho e os baixíssimos salários dos professores da rede pública, Amanda Gurgel viu sua voz ganhar eco por todo o país.

As palavras cortantes proferidas numa audiência pública realizada em maio de 2011 na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, viraram hit nas redes sociais.

Luzes foram jogadas sobre as mazelas da educação e Amanda acabou virando porta-voz da categoria.

Percorreu pogramas de TV e, em 2012,  foi eleita para a Câmara de Natal pelo PSTU.

Recebeu 32.819 votos sendo a vereadora mais votada da história da cidade e, proporcionalmente, a mais votada das capitais brasileiras.

Nesta quarta-feira,  a professora “fenômeno da internet” cumpre agenda no Recife.

Participará de um debate sobre a reforma política, marcado para às 19h no Teatro do Sindicato dos Bancários, na Boa Vista.

Nesta entrevista, ela defende o fim do Senado, a equiparação do salário dos professores aos de parlamentares e fala sobre o que espera dos protestos.

Aliás, a indignação mostrada por ela em 2011 é mesma vista nas ruas este ano.

“Acho que o fato de as pessoas terem alertado para isso, termina provocando toda essa reflexão que as pessoas fazem e as exigências vistas nas ruas, que é ‘menos dinheiro para a Copa, mais dinheiro para a educação, mais para a saúde’, ou seja, reivindicações mais do que justa”, diz.

O que a senhora pensa da reforma política?  

A primeira coisa fundamental para o debate é que dentro desse contexto de mobilizações que estão acontecendo existem reinvindicações das pessoas que estão indo às ruas. Mas essas reivindicações não passam por reforma política. Então, essa reforma política, na nossa opinião, é uma reforma que está reinvidicada agora pelo governo (federal) para distrair a população e canalizar toda a energia que existe nas ruas para uma proposta do governo.  Mas, no final das contas, essa reforma não representará mudanças significativas. Mas, já que existe esse debate em pauta, colocamos pontos que consideramos essenciais para o que seria uma reforma política avançada pelos trabalhadores.

Entre as propostas, que inclusive serão apresentadas nesta quarta-feira, está o fim do Senado, não é? Por quê?

Achamos que o Senado é uma instância do Parlamento que não tem uma função, uma funcionalidade. Na verdade, é apenas uma instância após a Câmara que acaba onerando os cofres públicos. É uma máquina que não serve para nada na vida da população, a não ser onerar cofres públicos. A não ser para garantir a existência do próprio Senado.

Outro ponto é a busca da equiparação do salário do professor ao de parlamentar. Esse é uma bandeira que, imagina-se, é sonhada por quem está na sala de aula e não é reconhecido, como a senhora salientou no vídeo de 2011.

O primeiro aspecto para o debate é que o professor,  na verdade é um profissional extremamente carregado. Para tudo a escola é demandada. Para resolver todos os problemas sociais que existem, basta a escola pautar esse assunto, que é como esse assunto fosse resolvido. O segundo aspecto é que a gente vê que os políticos desenvolvem um trabalho voltado justamente para manter a realidade do jeito que ela está: a educação precarizada, a saúde pública caótica, o transporte público numa condição humilhante para os trabalhadores. Por que que esse político que trabalha na verdade contra a população recebe um salário que, aqui no Rio Grande do Norte por exemplo, é dez vezes maior o que um salário de um professor? Então, a gente acha que se as pessoas realmente, como dizem nas campanhas eleitorais, querem trabalhar pela população, em defesa do povo, que ganhem um salário igual ao do professor. Que é um profissional, na nossa opinião, muito mais importante na sociedade do que um político.

O seu depoimento na Assembleia do RN ganhou repercussão pelas redes sociais. A indignação contida nele também está presente nos protestos atuais. Como a senhora avalia o que aconteceu lá e o que acontece aqui? Há a mesma indignação, a mesma importância da internet…

Acho que a minha fala contribuiu para as pessoas ficarem mais atentas. Serviu para alertar as pessoas para essa realidade. O maior mérito daquela fala foi que as pessoas perceberem que os problemas da educação existem no país inteiro. Não é só problema do Rio Grande do  Norte, de  Pernambuco. Viram que é uma questão nacional e que há uma política que é conscientemente implementada governo após governo para que a educação funcione exatamente do jeito que ela está. Acho que o fato de as pessoas terem alertado para isso, termina provocando toda essa reflexão e as exigências vistas nas ruas, que é ‘menos dinheiro para a Copa, mais dinheiro para a educação, mais para a saúde’, ou seja, reivindicações mais do que justa.

Qual avaliação a senhora faz dos protestos? Acredita que eles podem ir até onde?

É muito difícil saber. O movimento, em muitos momentos, demonstrou que era imprevisível. Não é possível mensurar, até onde vai… com que força… A gente percebe que já existem algumas mudanças no movimento. No início era um movimento espontâneo, sem envolvimento dos trabalhadores de forma organizada, era mais a juventude. Agora, já existe a entrada das categorias de trabalhadores organizados. Aqui em Natal, por exemplo, a prefeitura foi ocupada por permissionários do transporte alternativo. No dia 11 houve um chamado a uma paralisação geral convocada pelas centrais e sindicatos. O movimento vai sendo se modificando. Então, é difícil saber até onde ele vai. O que nós desejamos, torcemos e vamos trabalhar para isso é que o movimento siga em frente e que alcancemos vitórias históricas, como, por exemplo, o fim do pagamento da dívida pública. A gente acha que essa dívida já foi paga várias vezes. Hoje, apesar de haver uma propaganda do governo Dilma de que acabou a dívida, quase a metade do nosso orçamento anual é destinado ao pagamento. A gente acha que uma reivindicação desta deve ser alcançada através da força desse movimento. Assim como o investimento de 10% do PIB na educação, de 10% do orçamento para a saúde. É isso torce e espera que o movimento consiga.

 

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