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Vai de que?

12/07/2018 - 12:46 | Atualizada em 12/07/2018 - 12:49

Ilana Lerner

Estive recentemente na Alemanha, em duas cidades pequenas, Bonn e Koblenz. Em uma semana de viagem usei mais modais de transporte do que em anos no Brasil. Além do avião, obviamente, andei de trem, de bonde, de taxi, de metrô. Não andei de barco, mas tinha essa opção. Não andei de bicicleta porque não sei, mas isso é tema de outra história.
Aí fiquei pensando em como o Brasil perdeu todas as grandes oportunidades de criar uma rede de infraestrutura de transporte de carga e passageiros. Quando era barato, abandonamos os trens. Agora tentamos correr atrás do prejuízo construindo uma malha ferroviária nova, cara, sem aproveitar nossos antigos caminhos, soterrados pelo tempo e pela falta de visão dos nossos governantes.

Brasileiro chega à Europa e fica completamente encantado com a simplicidade e facilidade de se pegar um trem. É rápido, eficiente, prático demais. Avião pra quê? Você chega cinco minutos antes do embarque e desembarca no centro de qualquer grande cidade europeia de trem. É uma comodidade sem fim. Chegando ao Brasil, a gente leva uma hora e meia pra sair de Congonhas e chegar ao centro da cidade de São Paulo de táxi, uber, carona, o que for, num gigantesco engarrafamento, por falta de opção. Isso sem falar no deslocamento entre cidades relativamente próximas.

Dentro da cidade, a mesma coisa. Cidades espertas entenderam que os modais não precisam competir entre si e sim a confluência deles é que promove a mobilidade adequada. Se a cidade tinha trilhos de bondes antigos, modernizam seus bondes. Dedicam linhas exclusivas aos ônibus, se possível implantando todo o sistema do BRT (nosso, aliás). Estimulam o uso da bicicleta, tanto na rua quanto nos meios de transporte de larga escala. A pessoa que mora longe vai de bike até o metrô, literalmente, até dentro do metrô, onde finaliza sua rota. Tudo interligado, um sistema favorece o outro. Os modais se somam, simples assim.

E tem os barcos. Perdi a conta todas as vezes que tentava somar a quantidade de cargueiros no rio Reno por minuto. Era contêiner, carvão, combustível, carros, alimentos, todos flutuando suavemente nas águas do rio. Pista dupla, trânsito zero. Lindo de ver. E mesmo sem pesquisar, acredito que mais barato do que o transporte por terra, pois estive na estrada e não tenho a memória de ver um caminhão na minha frente.

Enfim, gostei da Alemanha. Além do schnitzel e da cerveja. Porém, ver um país que se respeita, que investe em coisas básicas, que funciona foi uma sensação agridoce. Foi ver o que a gente poderia ser se houvesse um mínimo de planejamento. A obra do trem pra Congonhas, prometido pra Copa, mostra seu esqueleto pra todos nós, como um escárnio. A péssima conservação das nossas estradas, que mata mais que qualquer guerra é criminal. Os ônibus lotados e os engarrafamentos quilométricos das grandes cidades são um prejuízo financeiro às cidades e à qualidade de vida das pessoas.

Ai ai, do exemplo da Alemanha aqui em terra brasilis só nos resta tomar muita cerveja…

 

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