Imprimir

Imprimir Notícia

13/10/2021 - 09:08

Transição energética é "demasiado lenta", avisa Agência Internacional da Energia

A Agência Internacional da Energia (AIE) considerou hoje que o mundo vai sofrer com o aquecimento global, mas também com "turbulências" no abastecimento energético, se não investir mais rapidamente em energias limpas.

No relatório anual, publicado duas semanas antes da abertura da Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26), em novembro, em Glasgow, na Escócia, a agência emitiu "avisos sérios sobre a direção que o mundo está a tomar".

Apontando que está a surgir uma "nova economia" no mercado da energia, a agência lamentou que o progresso seja contrariado pela "resistência do `status quo` e dos combustíveis fósseis", com o petróleo, gás e carvão a representarem ainda 80% do consumo final de energia e a serem responsáveis por três quartos das alterações climáticas.

Atualmente, os compromissos climáticos dos governos, se cumpridos, só permitirão atingir 20% das reduções de emissões de gases com efeito de estufa, necessárias para manter o aquecimento global sob controlo até 2030.

"Os investimentos em projetos de energia descarbonizada terão de triplicar nos próximos 10 anos para se conseguir a neutralidade de carbono até 2050", apontou o diretor da AIE, Fatih Birol.

"Se conseguirmos atingir a neutralidade de carbono até 2050, 2,2 milhões de mortes prematuras por poluição atmosférica poderão ser evitadas até 2030, 40% menos do que atualmente. Noutros cenários, irão aumentar", adverte-se no documento.

A AIE, que faz parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), apresentou três cenários para o futuro: o das atuais políticas de redução de emissões efetivamente implementadas pelos governos; o dos compromissos de redução assumidos; e o que permite atingir a neutralidade de carbono em 2050, já tornado público pela AIE em maio.

No primeiro cenário - o mais pessimista - a temperatura global aumentará 2,6 graus Celsius em 2100 em comparação com a era pré-industrial; no segundo, 2,1 graus; e apenas no terceiro será limitada a 1,5 graus.

O terceira cenário, atingindo a neutralidade de carbono até 2050, "exigirá grandes esforços, mas oferece benefícios consideráveis, tanto para a saúde como para o desenvolvimento económico", afirmou a AIE.

A agência acredita que é necessário um aumento do investimento de cerca de 4 biliões de dólares por ano até 2030 em projetos e infra-estruturas de energia limpa para atingir o objetivo da neutralidade de carbono até 2050.

O financiamento adicional necessário para esse objetivo "é menos oneroso do que parece", acrescentou a agência. Segundo a AIE, 40% das reduções das emissões "pagam-se por si próprias", através da eficiência energética, da luta contra as fugas de metano ou de parques solares ou eólicos.

A AIE salientou também que o atual défice de investimento afeta não só o clima, mas também os preços e a oferta, garantindo "turbulências" como as que o mundo está atualmente a sofrer, com as tensões sobre os combustíveis fósseis.

Nos últimos anos, a depreciação dos preços do petróleo e do gás limitaram o investimento no setor, mas a transição para a energia limpa é demasiado lenta para satisfazer a procura, considerou a AIE.

"Há um risco de turbulência crescente nos mercados globais de energia", disse Birol. "Não estamos a investir o suficiente para satisfazer necessidades futuras, e estas incertezas estão a preparar-nos para um período volátil", disse.

"A forma de responder é clara: investir de forma rápida e maciça em energia limpa" para satisfazer as necessidades, tanto a curto como a longo prazo, acrescentou.

Caso contrário, "o risco de volatilidade desestabilizadora tenderá a aumentar", pode ler-se no relatório, que salienta a importância de uma transição "acessível a todos os cidadãos".

"Está a surgir uma nova economia energética, com potencial para criar milhões de empregos", disse Fatih Birol, que apelou aos líderes que participam na COP26 para "fazerem a sua parte, fazendo da década de 2020 a década da implantação maciça da energia descarbonizada".
 
 Imprimir