17/08/2020 - 14:14 | Atualizada: 17/08/2020 - 14:18
Se você votou no presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por acreditar que o ministro da Economia, Paulo Guedes, o “Posto Ipiranga” da nova gestão do governo federal, levaria o Brasil rumo ao liberalismo econômico, você tem duas opções: assumir que sabia que isso nunca ocorreria ou admitir que foi enganado por um militar da reserva que sempre apostou no Estado forte. Inclusive contra os adversários políticos.
É preciso falar a verdade. O que era a agenda Guedes? Um amontoado de palestras bem ministradas, nenhum plano econômico e um monte de preconceitos contra empregadas domésticas, servidores públicos e pequenas empresas? Com exceção da reforma da Previdência Social aprovada em 2019 após boa ajuda do Congresso Nacional, o ministro da Economia dito liberal nada mais tem a apresentar.
O programa de privatizações nunca saiu do papel. Resta ainda a dúvida se um dia chegou a ser traçado ou era apenas representado por frases bonitas ditas em entrevistas desmentidas horas depois por Guedes em lives com representantes do setor bancário brasileiro. A saída de Salim Mattar da Secretaria de Desestatização foi só a evidência do óbvio.
Quando Paulo Uebel deixou a pasta responsável pela desburocratização do governo federal no Ministério da Economia, já se sabia que a gestão Bolsonaro flertava com a quebra do teto de gastos. Desmentiu na quarta-feira, 12, quando estava ao lado dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Mas bastou a live semanal no dia seguinte para Bolsonaro admitir os planos e mandar um recado ao mercado: sejam patriotas.
Curioso é que o presidente, guiado por seu ministro da Economia, tentava negar o óbvio no início da pandemia, quando base e oposição avisavam que era preciso socorrer a população durante o crescimento de casos da Covid-19. O auxílio emergencial que Bolsonaro e Guedes não queriam pagar, mas depois toparam liberar os R$ 600 para pessoas em situação de urgência, como informais e desempregados, por três meses, foi ampliado.
O que duraria três meses virou um benefício de cinco parcelas. Mas a proposta dos militares e do presidente é a de que o auxílio emergencial se torne um programa contínuo batizado de Renda Brasil. Tentaram até morder recursos do Fundeb para o novo Bolsa Família. Ainda não se sabe de onde virá o recurso, mas tentativas estão em discussão com o Congresso para manter os R$ 600 mensalmente pagos a mais de 65 milhões de brasileiros que urgem pelo dinheiro para comer.
Sim. Infelizmente o Brasil é um país com uma quantidade enorme de miseráveis que nunca viram ou deixaram de ter acesso a R$ 600 por mês com a crise econômica agravada a partir de 2015. As promessas de novos empregos da reforma trabalhista do governo Michel Temer (MDB) ajudaram a precarizar as condições dos contratos e os empregados se viram sem alternativa para sobreviver.
Muitos viraram motoristas ou entregadores por aplicativo. São trabalhos que não oferecem garantias, direitos trabalhistas ou vínculos empregatícios. Além da péssima e injusta remuneração por corrida. São constantes os relatos de motociclistas, ciclistas e pessoas a pé famintas que carregam nas costas a comida dos clientes de restaurantes e lanchonetes que oferecem seus produtos pelas plataformas, que são as únicas que lucram.
Nessa realidade, R$ 600 para quem já estava desempregado, perdeu o trabalho durante a pandemia ou recebia até R$ 200 no Bolsa Família é a chance de não passar fome. Pode parecer absurdo, mas para muita gente no Brasil R$ 600 é uma fortuna. Pouco mais da metade de um salário mínimo.