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22/06/2020 - 20:52 | Atualizada: 22/06/2020 - 20:55

Luta imediata de Bolsonaro é para se afastar do caso Queiroz

A Esplanada dos Ministérios foi dividida mais uma vez. De um lado, os manifestantes pró-Bolsonaro; do outro, os contrários ao governo com críticas duras e exigindo explicações da já famosa “rachadinha” e relacionamento com o ex-assessor preso Fabrício Queiroz. O 01, senador Flávio Bolsonaro, foi a vítima. Não houve incidentes nos atos de ontem, mas ficam as marcas do atual debate político, que tem ares de crise grave entre os poderes. Os manifestantes foram divididos por um cordão de policiais e, para entrar na Esplanada, era preciso revista geral e proibição de objetos que poderiam ser usados como armas.

Também nesta prevenção, a Polícia fez diligências e apreendeu material explosivo, armas e telefones do grupo radical apoiador de Bolsonaro que teve uma das líderes presa, a Sara Giromini, que ameaçou ministros do Supremo. O grupo é investigado por milícia privada, ameaças e porte de armas. O trabalho da polícia foi usado para tentar mais uma vez carimbar o seguidor do presidente Bolsonaro como radical. Isto não é verdade. Na Esplanada, estavam manifestantes tranquilos, famílias inteiras e grupos de amigos que já se acostumaram a passar pela Esplanada nos domingos com as suas bandeiras e cores verde e amarelo.

Entre os manifestantes, houve mesmo faixas com sentidos contrários à democracia, como fechamento do Congresso e do Supremo. Esta é uma minoria que existe. Entre os eleitores do presidente Jair Bolsonaro estão os que radicalizam e os que apoiam o seu governo para a luta contra a corrupção e, mais do que isso, a quebra dos costumes. O presidente fica entre as pressões internas que se espelham nas manifestações, mas não significa que a maioria dos apoiadores do presidente estão contra a democracia ou defendem intervenção. Esta é a grande equação que deve ser resolvida.

Em um determinado momento, o presidente vai ter que se posicionar e vetar o grupo radical ou cair mesmo neste debate perigoso que coloca em risco até a sua posição de comando. Analistas militares dizem que, se houver intervenção ou golpe, os novos chegam para mandar e os generais da ativa não terão um capitão da reserva como líder. Politicamente, dizem líderes no Congresso, o presidente Bolsonaro não tem perfil de ditador. Falta pulso e capacidade de concentração de poderes. Esta é a avaliação que leva a crer que haverá uma mudança de rumos no governo.

A luta imediata do presidente é se afastar do caso Queiroz. O desafio é fazer este afastamento de forma convincente e, ao mesmo tempo, não brigar. Um Queiroz rancoroso seria a pior situação para o presidente. A rachadinha não acaba com o governo, mas deixa em muita dificuldade o 01, o senador Flávio Bolsonaro. O senador já decidiu tirar o polêmico advogado Frederick Wassef da sua defesa. Um pouco tarde e com muito jeito. Elogios, afagos e versão de que o advogado pediu para sair. Ele que lutou tanto e forçou a barra para se aproximar da família Bolsonaro. Uma medida boa, mas difícil para explicar o que estava fazendo o personagem central da rachadinha, Fabrício Queiroz, na casa do advogado do senador que é investigado pela Justiça do Rio de Janeiro como chefe de organização criminosa que desviava dinheiro público; ou seja, roubava, com o eufêmico nome de “rachadinha”. Na realidade, esta investigação, se não fosse a compreensível emoção de pai ver um filho em maus lençóis, não tem nada a ver com o governo e absolutamente nada com o Palácio do Planalto. O presidente se transformou no para-raios da movimentação política. Assume desgastes e consequências de exageros de alguns militantes e aliados no Congresso e, por outro lado, é impactado por investigação contra o filho senador que tem – ou deveria ter – vida política própria.

*Repórter e comentarista político

 
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