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22/07/2012 - 12:13

Honestidade muda vida de moradores de rua

Andirá - O que você faria se encontrasse R$ 20 mil na rua? Essa pergunta correu todo o Brasil após a notícia de que um casal de moradores de rua em São Paulo havia devolvido todo o dinheiro encontrado em um saco de lixo. A quantia havia sido furtada de um restaurante japonês.

Com a atitude, Sandra Regina Domingues, de 32 anos, e Rejaniel de Jesus Silva, 36, deixaram de ser anônimos catadores de lixo e se tornaram famosos em todo o país. Um acontecimento que eles jamais poderiam imaginar. ‘‘A honestidade virou notícia. O que era pra ser um minuto de fama, acabou virando mais de 10 dias‘‘, conta Rejaniel, sorridente, ao receber a equipe da FOLHA na casa dos sogros em Andirá (Norte), onde se hospedou por alguns dias. Eles retornaram na semana passada a São Paulo e estão ansiosos com o recomeço de vida.

‘‘As pessoas que têm dúvida se eu deveria ou não ter devolvido o dinheiro, na verdade, são burros, pois o dinheiro que vem muito fácil vai fácil. É claro que minha vida seria diferente se eu tivesse R$ 20 mil. Compraria um barraco, um celular e roupas novas, mas e depois? Por eu ter devolvido, eu ganhei muito mais. Consegui um emprego e vou ter salário, podendo voltar a ter uma vida decente‘‘, comemora.

O empresário que teve o dinheiro de volta garantiu emprego para os dois em seu restaurante e comprou passagens para que eles pudessem visitar a família de Sandra, em Andirá. Rejaniel também pôde reencontrar os pais e irmãos em São Luís (MA).

Uma senhora que acompanhou a história do casal na mídia ofereceu uma casa para eles tomarem conta. Desde então, os planos que antes não existiam para Rejaniel e Sandra começaram a ganhar forma. ‘‘Com o salário, quero ajudar minha sogra a arrumar a casinha dela e pretendo voltar a estudar. Quero pelo menos terminar o Ensino Fundamental, fazer um curso de informática e aprender inglês‘‘, salienta.

É claro que uma notícia dessa também gerou certa ‘‘polêmica‘’ pelo fato de Rejaniel não ter ficado com o dinheiro. Para todas essas pessoas, ele faz questão de reforçar a maior lição que tirou das ruas e da educação dada pela mãe. ‘‘A honestidade pode nos levar a lugares inesperados e oferecer algo melhor em troca. Em nenhum momento eu pensei em ficar com o dinheiro, nem mesmo quando eu peguei toda aquela quantia nas mãos‘‘, ressalta ele, que já fez sua primeira aquisição com o dinheiro que o empresário lhe arrumou para viajar. ‘‘Comprei uma vara de pescar. É meu passatempo preferido‘‘, diz, com ar de quem não enriqueceu de um dia para o outro, mas de quem está voltando a reconhecer o que é felicidade.

Intuição

Parece que o destino de Rejaniel e Sandra tinha data marcada. Na madrugada de segunda-feira, feriado de 9 de julho em São Paulo, eles acordaram com o alarme de um empresa de ferragens, localizada perto do viaduto, onde dormiam. ‘‘Subimos para ver o que estava acontecendo e vi o segurança chegar. Em seguida, vieram os donos e começamos a olhar em volta para ver se achávamos algo‘‘, lembra Rejaniel, que encontrou um alicate que havia sido roubado, às margens da Radial Leste.

‘‘Naquela hora, me bateu uma intuição de que eu deveria continuar andando pela radial. Meia hora depois, eu e a Sandra vimos uma sacola feminina jogada no canteiro, perto de um ponto de ônibus. Dentro, tinha um saco de lixo e quando peguei, ela rasgou e milhares de moedas caíram no chão. Levamos até a empresa de ferragens e chamamos a polícia, pois o dono da loja tinha falado que não era dinheiro deles‘‘, comenta.

A viatura foi acionada e quando os policiais viram que um casal de moradores de rua devolvia R$ 20 mil (R$ 17 mil em dinheiro e R$ 3 mil em moedas), não acreditaram. ‘‘Ele (policial) olhava para a sacola de dinheiro e olhava para mim. Ele fez isso várias vezes até que me perguntou por que eu não tinha fugido com aquilo‘‘, lembra.

A resposta de Rejaniel foi imediata. Ele disse que o dinheiro não era dele e, diante desta atitude, o policial elogiu o ato de honestidade do casal. ‘‘Minha mãe me ensinou a não pegar o que não é meu. E aquele dinheiro tinha dono. Quando eu era pequeno, minha mãe vivia dizendo pra eu nunca roubar, mentir ou pegar o que é dos outros‘‘, completa.

No dia seguinte, eles foram na delegacia prestar depoimento. Na sacola de dinheiro tinha um envelope com nome e endereço do restaurante, que havia sido furtado minutos antes do alarme da loja de ferragens ter sido acionado. ‘‘Eles nos agradeceram e pediram para passarmos no restaurante depois, pois iriam nos recompensar. Não fomos porque estava parecendo uma obrigação, sabe?‘‘, conta o morador de rua, que horas depois, foi localizado pelo empresário embaixo do viaduto.

‘‘De repente, todo mundo estava sabendo. Veio gente da TV, do rádio, dos jornais. Horas depois, estávamos comendo uma comida boa, com arroz, feijão, bife e batata frita. Tomamos um banho quente e dormimos em um hotel. No dia seguinte, embarquei para o Maranhão. Fazia tempo que não sabia o que era dormir e comer bem. Lembrei que sou gente‘‘, afirma.
 

 
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