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07/06/2012 - 11:18

Cavendish, o generoso, magoou

senador Demóstenes Torres (GO-sem partido) operava em favor da Delta junto com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o diretor da empreiteira no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, certo? Assim ficou demonstrado em centenas de telefonemas grampeados pela Polícia Federal de 2007 para cá. Quer uma novidade?

O que não se sabia até agora é que Demóstenes também fazia lobby pela Delta em dobradinha com o próprio ex-presidente da empresa, Fernando Cavendish. Foi o que revelou o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT), Luiz Antônio Pagot, em entrevista à IstoÉ.

A ser verdade o que ele disse, o esquema da Delta com Demóstenes e Cachoeira não se limitava, portanto, aos interesses da empresa no Centro-Oeste via o diretor Cláudio Abreu. Por mais que tenha negado, Cavendish em pessoa, o primeiro amigo do governador Sérgio Cabral, do Rio, participava.

Com sua inconfidência, que não mereceu destaque na revista nem nos jornais do último fim de semana, Pagot detonou o principal argumento dos advogados de defesa da Delta e de Cavendish, que lutam nos tribunais para circunscrever o escândalo Delta/Demóstenes/Cachoeira às operações da empresa no Centro-Oeste.

Acusada de usar empresas-laranja de Cachoeira para irrigar seu esquema de malfeitos, a empresa recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF), empenhada em tentar barrar a quebra de seus sigilos bancário, fiscal e telefônico, aprovada pela CPI.

No mandado de segurança, os advogados da Delta alegam que o elo entre a turma de Cachoeira e a construtora se limitaria ao ex-diretor Cláudio Abreu, da filial do Centro-Oeste, e que não haveria razão para quebrar o sigilo dos dados nacionais da empresa.

Ora, o que fazia, então, o ex-presidente da empresa, Fernando Cavendish, em companhia do diretor Cláudio Abreu, no jantar na casa de Demóstenes, durante o qual o senador fez lobby junto ao convidado de honra, o ex-diretor-geral do DNIT, para “carimbar” obras públicas e destiná-las à Delta?

Eis o trecho da entrevista de Pagot à IstoÉ:

É verdade que o senador Demóstenes o convidou para um jantar com executivos da Delta?

Sim. Ele preparou todo o jogo de cena. Primeiro, me convidou para jantar com a família. Num segundo jantar, cheguei lá e estavam os caras da Delta, o Cláudio Abreu e o Fernando Cavendish.

E o que conversaram?

Ao final do jantar, Demóstenes me convidou para conversarmos em uma sala separada. Só eu e ele. Disse: “Olha, Pagot, estou com dívidas com a Delta e precisava carimbar alguma obra para poder retribuir o favor que a Delta fez para mim na campanha.” Eu disse que não tem como o diretor-geral do DNIT ir no mercado pedir obra para a Delta. Quando me despedi de todos, o Cláudio Abreu nem me deu conversa.

Aqui, trechos do mandado de segurança dos advogados da Delta impetrado junto ao STF:

• “A citação de reportagens jornalísticas sobre o suposto crescimento financeiro da empresa Delta, por si só, não é fundamento para se devassar as ligações telefônicas efetivadas pelos 30 mil funcionários”.

• “Os requerimentos de quebra de sigilo informam que o objeto da apuração são as relações de Carlos Cachoeira com o ex-diretor da região Centro-Oeste, não existindo nenhum indício de ilicitudes praticadas em âmbito nacional. A instauração da própria CPI é restrita ao propósito de averiguação dos atos de Carlos Cachoeira e pessoas de seu relacionamento.”

O pedido de devassa nos dados nacionais da Delta, aprovado pela CPI, abrange o período de 2002 até hoje.

Em seu depoimento à CPI, o delegado da Polícia Federal Matheus Mela Rodrigues disse que a construtora Delta teria se beneficiado de contratos por meio de ligações de seus diretores com Cachoeira.

Em troca, a Delta transferiu R$ 39 milhões para três empresas – JR, Brava e Alberto&Pantoja – usadas por Cachoeira para lavagem de dinheiro e remessa de divisas a paraísos fiscais no Caribe.

O mandado de segurança da Delta foi negado pelo STF na tarde da última segunda-feira.

A essa altura, se arrependimento matasse, estariam mortos os membros da CPI que cederam às pressões e quebraram o sigilo das contas nacionais da Delta. Não se faz uma coisa dessas com a empreiteira mais permeável a pedidos de políticos em dificuldades.

Dizem na CPI que Cavendish anda muito aborrecido. E que não se cansa de repetir: “Dei R$ 100 milhões para a campanha de muita gente em 2010, inclusive a da moça. Espero que me defendam”.

 
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