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17/05/2012 - 17:12

CPI poupa governadores e dono da Delta

Apesar de quebrar o sigilo telefônico, bancário e fiscal de 36 pessoas e empresas e convocar outras 51 testemunhas e acusados para depor, a CPI do Cachoeira não votou a convocação de governadores nem do ex-presidente da construtora Delta, Fernando Cavendish. Também ficou para ser apreciado na próxima reunião administrativa, em 5 de junho, requerimentos que tratam da quebra dos sigilos da empresa em nível nacional. Nesta quinta-feira, os parlamentares da comissão aprovaram apenas o pedido ao acesso de dados da Delta Centro-Oeste.

A oposição, ajudada por alguns deputados e senadores que apoiam o governo, se manifestou contra. Para eles, não há sentido de investigar apenas a empresa na região Centro-Oeste. Eles argumentaram que há interceptações telefônicas em que o nome de Carlos Pacheco, ex-diretor executivo da empreiteira, aparece com certa frequência. Mesmo assim, os argumentos não convenceram o relator Odair Cunha (PT-MG), que adiou a votação do requerimento.

- Vamos votar o sobrestamento (adiamento) da quebra do sigilo da matriz, dos governadores e do Cavendish. Proponho que esses temas sejam analisados em outro momento. Concordo que os contratos da Delta devem ser investigados. E que não deve ganhar contorno partidário. Devemos propor que as assembleias dos estados e as câmaras municipais criem CPIs específicas para analisar esses contratos – disse Cunha.

A CPI aprovou hoje apenas a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico, desde 1º de janeiro de 2002, de cinco subsidiárias da construtora Delta, no Centro-Oeste: Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. De responsáveis pela construtora, foi aprovada apenas a quebra de sigilo do ex-diretor para o Centro-Oeste, Cláudio Abreu.

Família de Cachoeira e membros mais próximos do grupo são chamados a depor

Nesta quinta-feira, 77 requerimentos de oitivas foram aprovados, para que falem à CPI as pessoas mais próximas a Cachoeira. Foram chamados para depor sua ex-mulher, Andréa Aprígio, e o ex-cunhado, Adriano Aprígio. Os requerimentos para ouvir o pai do contraventor, Sebastião de Almeida Ramos, e o irmão, Marcos Antonio de Almeida Ramos, também foram aprovados hoje. Além disso, o irmão do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), o procurador Benedito Torres, também foi chamado a falar para a CPI. A atual mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, no entanto, não foi convocada.

A CPI também se aproxima do governo do Distrito Federal: o chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz, Claudio Monteiro, é mais um dos que a Comissão quer ouvir.

Outros membros do grupo de Cachoeira foram chamados para depor. Os delegados da Polícia Federal, Fernando Byron e Deuselino Valadares dos Santos, também foram chamados.

A quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico de diversas empresas vinculadas ao esquema do contraventor também foi aprovada nesta sessão. Os parlamentares também vão requisitar informações ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) da movimentação suspeita de várias empresas e pessoas. No entanto, até agora a CPI não aprovou nenhum requerimento referente à construtora Delta ou ao seu ex-administrador, Fernando Cavendish. Também ficou de fora a convocação dos governadores.

A comissão autorizou na sessão de hoje a divulgação de dados bancários telefônicos e fiscais de Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, ex-sargento da Aeronáutica preso pela operação Monte Carlo da Polícia Federal, sob acusação de ser informante e braço direito de Cachoeira. A CPI também quer ter acesso às informações de Geovani Pereira da Silva, suposto contador responsável pela movimentação de todo o dinheiro da organização chefiada por Cachoeira. Ainda foi aprovada quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico do sobrinho do Cachoeira, Leonardo Ramos.

CPI derruba requerimento para separar gravações de jornalista

A CPI desistiu nesta quinta-feira de colocar em votação um requerimento para que as gravações entre o jornalista Policarpo Jr., da revista “Veja”, e Cachoeira, e outras entre o jornalista e membros da organização criminosa fossem separadas de todo o processo. O requerimento foi apresentado pelo senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), com apoio do PT.

O clima ficou tenso, com diversos parlamentares criticando a iniciativa, argumentando que, no fundo, o que setores do PT e o próprio Collor queriam era uma revanche, além de perseguir a liberdade de imprensa. Depois de muita discussão, o relator, deputado Odair Cunha (PT-MG) declarou prejudicada a votação.

Logo no início dos trabalhos, o relator quis votar, em conjunto, vários requerimentos. Ele alegou que, para melhor encaminhamento, faria blocos. Num deles, incluiu a quebra de sigilos e requisição de servidores. A intenção de Cunha era ler apenas os números dos requerimentos, sem informar do que se tratava. Coube ao deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) pedir para que ele lesse o assunto. Num dos documentos, Collor queria que fosse solicitadas gravações em que aparecem o jornalista da “Veja”.

Miro pediu que o requerimento fosse votado separadamente, para que não corresse o risco de ser aprovado. Collor foi o primeiro a defender seu pedido:

- Acredito que o deferimento do requerimento seja fundamental para que possamos detectar com clareza e profundidade até onde foi e vai essa coabitação criminosa entre este jornalista e o grupo criminoso – disse.

- Meu requerimento é no sentido de que pincemos os trechos para que fique comprovado que houve conluio, mancomunado entre Policarpo e Cachoeira – concluiu, deixando claro sua intenção.

Paulo Teixeira (PT-SP) foi outro que defendeu o destaque do documento apresentado por Collor.

- Este jornalista está sendo investigado nessa operação. Não há prejulgamento. Ele está sendo investigado. Se não estivesse, não teríamos ligações constantes – discursou.

Para Miro e outros parlamentares, o que está havendo é uma perseguição por questões políticas.

- Aprovamos um requerimento que genericamente pede a requisição do material bruto. Destacar uma pessoa ou outra é submetê-la a um regime diferenciado que pressupõe culpa.

 
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