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'Diarista ganha mais que professor', diz Cyro

26/03/2013 - 12:05

Erica Neves

 Presidente da Comissão de Educação no Senado, Cyro Miranda critica sistema e propõe salário de R$ 2,5 mil para professores

A definição só acontecerá nos últimos três anos, com a opção do próprio aluno. Essa mudança é necessária porque a carga horária das escolas brasileiras é uma das menores do mundo. Contraditoriamente, ao mesmo tempo em que temos uma carga horária menor, temos disciplinas em excesso. Eu defendo que essa grade seja mais prática. Se você vai para a área de Exatas, por exemplo, não precisa ver tanto conteúdo de Biológicas ou Humanas. O que precisamos mesmo é fazer uma reciclagem da grade curricular.

Esse modelo não é segregador, já que o aluno rico, com acesso a uma boa escola particular tem mais chance de cursar uma universidade, enquanto o de baixa renda encontrará no ensino técnico a melhor opção? 
Mas isso só acontece porque não temos um ensino público de qualidade. Se o governo oferecer uma educação de base para a criança, ela se sairá bem em qualquer lugar. É preciso oferecer a esses estudantes as duas vertentes, ou seja, ensino regular e ensino técnico de qualidade.

Estamos longe de alcançar um ensino público de qualidade?
Estamos sim! E essa qualidade vai caindo cada vez mais quando nos afastamos dos grandes centros urbanos. E hoje os professores não são estimulados e o problema deles não termina quando acaba a aula. Na verdade, o problema começa ali, quando o professor deixa a escola e vai ‘pra’ casa. É lá que ele tem que arrumar tempo para planejar as aulas, corrigir os trabalhos e provas... E na escola, além da aula, tem que participar das reuniões de planejamento e pedagógicas. Tudo isso por R$1.600. Salário que uma diarista hoje ganha! Não é justo! Não que o trabalho de uma diarista não tenha valor, mas o final de semana é dela! Já o professor, além de levar trabalho ‘pra’ casa, é muito mais exigido!

Sobrecarga que também atrapalha o processo de qualificação do professor?
Sim, pois não sobra tempo nem ânimo para ele se reciclar. Esse professor dá aula à noite, faz trabalhos burocráticos e não tem tempo de se reciclar. Mas a culpa não é dele; é de como está formatada a educação pública brasileira.

Na opinião do senhor, a proposta dos 10% do PIB são suficientes para a educação? 
O ideal seria 12%, mas o país não tem capacidade para isso. Então nós firmamos em 10%, mas o governo não aceitou! Mas a grande questão mesmo é que nós precisamos usar e distribuir melhor os recursos que temos. O dinheiro que o governo está investindo para trazer a Copa do Mundo, por exemplo, se fosse investido na educação e na saúde resolveria os grandes problemas das duas áreas. E o retorno que se espera com a Copa não chega nem perto daquilo que se está investindo! É um absurdo, pois estamos gastando bilhões para trazer esse campeonato para um país que tem problemas seríssimos na educação e na saúde!

Quais são seus desafios na Comissão? 
O maior é a aprovação e implantação do PNE [Plano Nacional de Educação], que terminou em 2010. O Brasil está sem um plano de educação e nós estamos incorrendo em uma criminalização da Constituição e isso é ilegal. Nós estamos entrando no terceiro ano e isso significa que 30% do tempo já foi embora. Então esse é nosso maior desafio.

Voltando os olhos para Goiás, o senhor considera o modelo de ensino integral das escolas de Ensino Médio o ideal? 
É um dos caminhos. Mas eu quero saber mais detalhes porque não basta ‘arrumar’ mais professores; você precisa de estrutura física, tem que ter aparelhamento etc. A educação hoje ficou mais cara por causa da tecnologia. Há 20 anos não se falava em computador, hoje quem não tiver um computador em sala de aula não tem velocidade nas coisas. O processo é rápido e custa caro e nós precisamos acompanhar isso.

O programa de bonificação de pais, implantado pela Secretaria de Educação de Goiás, é a melhor alternativa para fazer com que os pais acompanhem a vida escolar de seus filhos?
Eu sou favorável ao inverso: penalizar! Ser responsável pelos filhos é uma obrigação dos pais! Se você falta com sua obrigação, não pode ser premiado e sim, punido! A obrigação dos pais é de ir até a escola, é de acompanhar os filhos... Isso é o mínimo! Seria muito melhor dar um curso para esses pais, uma vez por mês, para conscientizá-los desse papel. O problema não é só da escola, pois a escola é uma continuidade da família. 

Com a entrada em vigor do PNE haverá uma valorização melhor do professor?
A valorização passa por mais investimentos na educação e também pela melhoria do piso salarial. Temos que oferecer gratuitamente cursos de reciclagem para esses educadores e é o poder público que deve oferecer isso a eles. O governo paga uma ‘miséria’ aos professores e ainda quer obrigá-los a se reciclarem, a se atualizarem? Não tem a menor condição! Também é preciso disponibilizar estrutura física para que esses professores façam um bom trabalho.

O senhor fala muito em valorização dos educadores. Qual salário o senhor defenderia hoje para um professor?
O salário que eu defendo, mas acho difícil de ser colocado em prática, é de R$2.500. Um professor da rede pública não deveria ganhar menos do que isso, pois na iniciativa privada, em áreas administrativas, certamente ele teria um salário superior a isso. Sei que isso é um sonho, mas o governo pode ir aumentando, persistindo e tentando. Eu não sou professor, mas percebo o sofrimento dos educadores. A primeira oportunidade que eles têm, eles saem da escola e com toda razão.

Uma pesquisa mostra que o professor faz do Ensino Fundamental público um trampolim para as universidades. Isso faz com que as escolas de Educação Básica sejam transitórias na vida deles, o que prejudica o ensino...
Exatamente! Na primeira oportunidade que o professor tem, ele muda de emprego e a rede pública vai ficando com um ensino da pior qualidade, pois só vão ficando na escola aqueles que não podem sair, aqueles que não se reciclaram. E são esses que estão formando a base de qualquer profissão. Qualquer país desenvolvido tem que ter uma preocupação tremenda com a formação de base, já que não é possível construir um prédio sem sustentação.

 

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