A Advocacia-Geral da União (AGU) quer abrir uma investigação urgente para apurar um possível esquema de manipulação do mercado financeiro às vésperas do anúncio do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil. A ação, anunciada neste sábado pelo advogado-geral da União Jorge Messias, será encaminhada à Polícia Federal (PF) e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e mira uma operação bilionária no câmbio que pode ter rendido lucros altíssimos com base em informação privilegiada.

Segundo denúncia feita por Spencer Hakimian, fundador da Tulu Capital, uma empresa de investimentos dos EUA, um ou mais operadores compraram entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões em dólares por volta das 13h32 (horário da Costa Leste) do dia 9 de julho, pouco antes de Trump anunciar um aumento de 50% nas tarifas sobre produtos brasileiros. Às 16h19, minutos após a coletiva na Casa Branca, o real despencou e os dólares foram revendidos com lucro de cerca de 2,5%.

Como essas operações costumam ser feitas com alavancagem – ou seja, empréstimos que multiplicam ganhos –, os ganhos reais podem ter variado entre 25% e 50% em menos de três horas, segundo Hakimian, que obteve os dados por meio do Terminal Bloomberg. Para ele, a sequência de eventos sugere que alguém teve acesso antecipado à decisão da Casa Branca.

Lucro relâmpago e suspeita de conluio

A suspeita principal é de que a informação sobre as tarifas tenha sido vazada antes do anúncio oficial, permitindo uma operação de câmbio altamente lucrativa e fora dos padrões. O caso lembra movimentos anteriores de Donald Trump, como em abril, quando o ex-presidente interferiu no mercado ao sugerir compras em massa de ações nas redes sociais, antecipando decisões políticas que favoreciam esses investimentos.

A AGU agora quer apurar se houve participação de brasileiros na operação e se o suposto vazamento partiu de interlocutores próximos a Trump. Caso confirmado, o episódio poderá configurar crime financeiro e conluio internacional para manipular o mercado.

Nos Estados Unidos, parlamentares democratas tentaram abrir uma investigação no Congresso, mas esbarraram na blindagem política em torno de Trump. No Brasil, a AGU tenta agir com rapidez para impedir que o caso seja engavetado ou abafado, como já aconteceu em episódios similares.

Além do impacto econômico, a movimentação atinge diretamente a soberania do país, especialmente em um contexto em que Jair Bolsonaro e seu filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), são acusados de conspirar com o governo norte-americano para impor sanções contra o Brasil.

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