Lula quer maioria no Senado para conter avanço bolsonarismo
MATO GROSSO
08/06/2025 - 12:30
Redação
Foto: Reprodução
A ofensiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela maioria no Senado começou antes mesmo do calendário eleitoral. O petista, de Paris, ecoou um alerta já feito no início do ano: mais vale eleger senadores do que governadores. A frase não é retórica, é tática – e escancara a real batalha de 2026.
Enquanto a grande imprensa ainda mira o Planalto, o verdadeiro xadrez do poder se desenrola na cúpula do Congresso. Lula sabe disso. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), idem.
O Senado se tornou o principal campo de disputa entre os dois polos que dominam o cenário político brasileiro. Com 54 cadeiras em jogo, a eleição de 2026 pode redefinir o equilíbrio de forças da República.
Aliados de Jair Bolsonaro dizem abertamente que, com a maioria absoluta da Casa, terão poder para “mandar mais que o presidente”. A frase não é força de expressão: está ancorada na competência do Senado de aprovar ministros do STF, derrubar vetos, sustar decretos e até julgar magistrados.
Do lado de Lula, o temor é concreto: uma maioria bolsonarista abriria as portas para ofensivas contra o Supremo, ameaças à democracia e instabilidade institucional. Por isso, o petista busca consolidar uma base sólida que sustente seu governo — e uma eventual reeleição.
Segundo fontes do PT ouvidas pelo Caldeirão Político, Lula convocou seu grupo político para montar um “mapa de ouro” de candidaturas ao Senado. O objetivo é identificar nomes com densidade eleitoral, articulação regional e fidelidade ao projeto democrático-popular.
A direção nacional do partido, que será comandada em 2026 por Edinho Silva, já discute alianças estaduais e até concessões em disputas locais para favorecer candidaturas senatórias viáveis. O recado é claro: o Senado não é coadjuvante, é protagonista.
Essa tática também visa conter o avanço do bolsonarismo entre evangélicos, ruralistas e setores do centro fisiológico, que devem ser alvos de cooptação por parte do PL e partidos aliados.
Bolsonaro quer usar Senado para “emparedar” STF
O ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo inelegível, não saiu de cena. Em evento do PL, afirmou que com 41 senadores ele e seus aliados vão “mandar mais que o presidente da República”.
O projeto bolsonarista é explícito: conquistar o Senado para nomear aliados, barrar indicações de Lula, sabatinar com hostilidade e pressionar ministros do STF. Nos bastidores, parlamentares do grupo defendem abertamente o impeachment de Alexandre de Moraes — o que exigiria 54 votos.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro articula chapas duplas em todos os estados, com nomes do PL e partidos do centrão. A estratégia é sobreposição, não competição interna.
PL revela sua tática eleitoral
O deputado Fernando Giacobo (PL-PR), presidente do Partido Liberal no Paraná e líder das Minorias na Câmara, revelou ao Blog do Esmael, em abril:
“Se elegermos 35 senadores em 2026, com os 8 de 2022, chegaremos a 43. Aí ninguém segura o PL no Senado.”
Essa previsão tem deixado a cúpula petista em alerta. Com a renovação de 54 cadeiras em 2026, o bolsonarismo precisa conquistar 30 delas para alcançar 45 senadores — maioria simples e suficiente para controlar a pauta legislativa.
Mas para avançar sobre o STF, o buraco é mais embaixo. São necessários 54 votos para aprovar um impeachment de ministro. Isso exigiria vitórias duplas em ao menos 12 estados, algo sem precedentes na história política brasileira.
Giacobo também revelou outro dado estratégico: o PL pretende eleger entre 120 e 150 deputados federais, ampliando sua influência nas duas Casas e reposicionando o partido como centro de gravidade do conservadorismo institucionalizado.
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PT antecipa 2026 para defender democracia
Na outra trincheira, o PT acelera a montagem das candidaturas ao Senado. A avaliação interna é que 2026 será a eleição mais importante da Nova República — e pode ser a última com Lula nas urnas.
“Essa será a última eleição de Lula representando nosso projeto”, afirmou Edinho Silva em debate interno. O partido quer chegar ao próximo ano com nomes definidos e palanques montados, sem improviso.
Além de candidaturas próprias, o PT busca fortalecer legendas aliadas como PSB, PCdoB, PV e setores progressistas do MDB e PSD. A federação partidária se tornou também um escudo contra a fragmentação.
O Senado é o campo decisivo de 2026
A disputa pelo Senado em 2026 está longe de ser apenas uma guerra de nomes. É um embate entre dois projetos de país. De um lado, o bolsonarismo que mira o controle institucional para enfraquecer o Supremo, revisar decisões sobre direitos civis e blindar seus aliados de investigações. Do outro, o campo progressista que promete preservar a governabilidade, o Estado de Direito e as conquistas sociais.
Lula sabe que não há futuro para seu projeto sem maioria no Senado. Bolsonaro aposta que só terá poder real se emparedar as instituições a partir dali.
O futuro do país pode não estar no Planalto, mas nas 54 cadeiras que estarão em jogo. E cada uma delas pesará mais do que mil discursos.