PROGRAMA DO BIAL: Ministra Gleisi Hoffmann defende Lula e denuncia concentração de renda
“Se a extrema-direita voltar, o Brasil viverá um período sombrio. Lula é necessário”.
30/05/2025 - 09:48 | Atualizada em 30/05/2025 - 09:59
Redação
Foto: reprodução/GloboPlay
A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou nesta quarta-feira (28), no programa “Conversa com Bial”, que o ex-presidente Lula é o único nome viável para derrotar a extrema-direita em 2026. Ao longo de trinta minutos de entrevista, ela defendeu a política econômica do governo, cobrou comunicação mais efetiva com a sociedade e criticou a elite que se recusa a pagar impostos.
Com a contundência que a consagrou como uma das vozes mais firmes do PT, Gleisi classificou o projeto de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil como um marco civilizatório. Ao mesmo tempo, defendeu a tributação de grandes rendas: “141 mil pessoas ganham acima de R$ 50 mil e não pagam nada. Isso é obsceno num país com 70% da população ganhando até dois salários mínimos”, afirmou.
Nos bastidores do Planalto, a ministra tem sido a fiadora da governabilidade e articuladora das pontes com o centrão. Mas ao falar com Bial, revelou incômodo com a comunicação do governo: “Precisamos ser mais ofensivos. Estamos nos defendendo há oito anos e esquecemos de disputar narrativas”.
Gleisi também respondeu sobre a sucessão de Lula, que completa 80 anos em 2026. Para ela, não há outro nome com a mesma capilaridade popular para enfrentar a extrema-direita. Ao mesmo tempo, defendeu Fernando Haddad e Camilo Santana como nomes com capacidade técnica, mas admitiu: “Ainda não são lideranças consolidadas”.
O momento mais sensível da entrevista veio quando ela relatou os bastidores do recuo na alta do IOF sobre investimentos. Gleisi assumiu que houve erro na comunicação e revelou que a reversão foi decidida após pressão do mercado. “Era uma arrecadação de R$ 1,9 bi, mas o impacto político era alto demais. Corrigimos”, disse.
Questionada sobre a primeira-dama Janja, Gleisi defendeu o papel ativo da esposa do presidente, mas disse que ela preferiu não ter cargo oficial. “Formalizamos tudo por meio da AGU. A atuação dela é transparente”.
Na reta final, Gleisi fez uma defesa enfática do presidente: “Lula foi o primeiro a eleger uma mulher, a me apoiar no comando do PT e a nomear ministras e juízas. Escorrega no vocabulário, mas tem compromisso real com as mulheres”.
A entrevista termina com um alerta: “Se a extrema-direita voltar, o Brasil viverá um período sombrio. Lula é necessário”.
Leia abaixo a transcrição completa no formato pergunta e resposta:
Pedro Bial: Muito obrigado por vir, Gleisi. O certo é “Gleisi” ou “Gleice”?
Gleisi Hoffmann: Falam dos dois jeitos, mas o certo mesmo é Gleisi, com som de Z.
Bial: Seu nome veio de onde?
Gleisi: Minha mãe queria me batizar de Grace, por causa da Grace Kelly, mas meu pai achou que ela estava errada e registrou com dois Ls. Ficou Gleisi.
Bial: Você tem fama de rígida. Como lida com a negociação política?
Gleisi: A política não pode ser só negociação e nem só disputa. Tem que ter coragem para defender ideias e grandeza para mediar. No governo, você precisa garantir que as pautas avancem. Algumas brigas não valem a pena. Outras, sim. Mas claro que hoje eu preciso ser mais maleável do que quando era presidente do PT. No governo, precisamos garantir que o Congresso aprove o que é necessário.
Bial: O projeto de isenção do imposto de renda?
Gleisi: Mandamos ao Congresso. Isenta até R$ 5 mil e tributa quem ganha acima de R$ 50 mil. São só 141 mil pessoas. Isso é justiça fiscal. A efetiva tributação precisa garantir que quem ganha muito pague ao menos 10% do que recebe.
Bial: Mas o Congresso pode mexer nisso?
Gleisi: Pode, e vai tentar. Mas essa é uma matéria que precisa de disputa, não só mediação. Se tiver acordo, precisa ser benéfico ao país e ao povo. Precisamos mobilizar a opinião pública.
Bial: O que levou você à esquerda?
Gleisi: Foi no colégio. Estudei com as irmãs Bernardinas. Elas faziam trabalho social com a comunidade. Aquilo me tocou. Vi que política podia transformar realidades. A religiosidade virou militância social.
Bial: Você queria ser freira?
Gleisi: Queria. Cheguei a ser convidada. Mas meu pai não deixou. Queria que eu ficasse perto.
Bial: Política como sacerdócio?
Gleisi: Acredito nisso. Política é viver uma causa. Claro, tem desvios. Mas pode ser um caminho legítimo de transformação.
Bial: Chorou ao ser chamada por Dilma para a Casa Civil?
Gleisi: Chorei de medo. Só tinha seis meses de Senado. Falei pra Dilma: tem certeza? Mas ela me apoiou e fui. Foi uma das maiores experiências da minha vida.
Bial: Crises como 8 de janeiro, INSS, IOF…?
Gleisi: No caso do IOF, houve erro de comunicação. A mudança era pequena, mas afetava fundos e remessas. O mercado reagiu. Estávamos numa reunião e resolvemos recuar. A arrecadação era baixa, não valia o custo político.
Bial: Oposição digital, como Nikolas Ferreira?
Gleisi: Eles dominam bem as redes. Vídeos bem produzidos. Temos que disputar mais. Estamos há anos só nos defendendo. Perdemos narrativa. Isso precisa mudar.
Bial: O trabalhador brasileiro mudou?
Gleisi: Mudou sim. E o PT ficou preso ao sindicalismo da década de 1980. Hoje, o trabalhador quer empreender, crescer. E muitos não querem carteira assinada. Precisamos entender isso. Mas também garantir proteção pra velhice.
Bial: Como explicar que o mesmo trabalhador vota no Lula e depois segue Pablo Marçal?
Gleisi: Lula representa o direito. Mas depois que conquista o básico, o trabalhador quer mais. O Marçal vende a ilusão de que basta acreditar. Precisamos oferecer caminhos reais, sem enganar.
Bial: Há alternativas a Lula em 2026?
Gleisi: Temos quadros como Haddad, Camilo Santana. Mas ainda não são lideranças consolidadas. Lula tem capilaridade. Se a extrema-direita voltar, será um retrocesso. Lula é necessário.
Bial: E Janja?
Gleisi: Janja preferiu não ter cargo. Atua em várias frentes. Tudo é formalizado pela AGU, com agenda pública e transparência.
Bial: E a fala de Lula dizendo que você é bonita para articulação política?
Gleisi: Foi uma escorregada. Ele queria dizer que sou forte. Mas o que vale são os gestos. Ele apoiou Dilma, me apoiou no PT, nomeou ministras e juízas. Tem compromisso real com as mulheres.
Bial: Obrigado pela entrevista.
Gleisi: Obrigada, Bial.