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Mauro Mendes prioriza equipamentos, enquanto policiais adoecem

Efetivo defasado, sobrecarga de trabalho, vidas em risco e pressão psicológica: a estafante rotina dos policiais

03/05/2024 - 14:13 | Atualizada em 08/05/2024 - 17:27

Cícero Henrique

Mauro Mendes prioriza equipamentos, enquanto policiais adoecem

Foto: Reprodução

A situação é critica no pais no que diz respeito à segurança pública. É o que mostram as pesquisas divulgadas e analisadas por especialistas e pesquisadores.

No estado de Mato Grosso não é diferente.

A gestão do governador Mauro Mendes (União) tem priorizado investimentos em equipamentos de vigilância, armas e viaturas, o que é necessário, mas não basta. Esquece-se de investir no efetivo humano. Integrantes das forças policiais ouvidos pela reportagem, que preferem não ter o nome divulgado, queixam-se da falta de política de saúde mental.

Submetidos a jornadas de trabalho exaustivas, com efetivo da ativa reduzido, os policiais civis e militares queixam-se de ansiedade, cansaço crônico e esgotamento mental. 

De acordo com dados do 'Raio-X das Forças de Segurança no Brasil', estudo divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o efetivo na ativa da Polícia Civil previsto em Mato Grosso é de 5.600, mas há, de fato, 2.887, 51,6% do número necessário. Na Polícia Militar, o efetivo da ativa é de 6.752, 54% do previsto, que é de 12.495.

Para o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a redução dos efetivos é resultado de um modelo de organização inviável das polícias estaduais. Embora os policiais brasileiros ganhem, na média, menos do que seus pares em países desenvolvidos, o salário supera em 51% os rendimentos de outros servidores estaduais. Isso é justificado pela atividade de risco que desempenham.

Com baixo efetivo, os policiais mato-grossenses na ativa ficam sobrecarregados. Enquanto as facções criminosas estão cada vez mais articuladas, as forças policiais sofrem com a sobrecarga de trabalho.

Em Mato Grosso, pressionados pela necessidade, policiais civis recebem o Abono Permanência. "Se estiver trabalhando, ganha até 4 mil reais. Mas não pode ter licença médica, descanso, não pode tirar folga, férias. Se tirar não recebe o retroativo", diz um policial ouvido pelo Caldeirão Político.

Além disso, os policiais civis ficam em regime de Chamada a Qualquer Hora (CQH). "O policial pode estar com a família, descansando, ele tem que atender no celular. Para isso ele ganha a gratificação de 1.5000,00", explica o policial.

A Lei Nº 12.491/2024, sacionada no mês passado pelo governador Mauro Mendes institui a Semana Estadual de Segurança Pública, a ser comemorada de 15 a 21 de abril de cada ano. O Artigo 3º, inciso IV estabelece, entre seus objetivos, a promoção de ações voltadas à saúde física, psicológica e mental dos agentes de segurança pública. O Art. 4º especifica que "caberá ao Poder Executivo, por meio dos órgãos competentes, a promoção, intensificação e reunião de atividades diversificadas visando à promoção do tema, como palestras, cursos, concursos, audiências públicas, a divulgação publicitária de campanhas, entre outros eventos destinados à promoção do tema e dos agentes de segurança pública." Na prática, uma semana de ações não tem força para contribuir para a saúde física e mental dos policiais.

De acordo com a Coordenadoria de Assistência Social da Polícia Militar, há apenas 16 psicólogos entre efetivos e contratados, a maioria em Cuiabá, para atender os policiais militares lotados em Mato Grosso, o que corresponde a 1 psicólogo para atender quase 440 agentes.

Segundo um dos policiais ouvidos pela reportagem, a Lei Nº 12.491 "parece ser mais um jogo de cena para promoção pessoal do governador em exercício".

"Ele [Mauro Mendes] gosta de aparecer nas fotos ao lado dos policiais, mas ignora os graves problemas que afetam as duas corporações, a policia militar e a polícia civil, que é a questão da falta de uma efetiva política de saúde mental dos valorosos profissionais", conclui o policial.

Situação dramática
É preciso reconhecer a hora de parar, eu preciso parar, eu estou de serviço hoje e estou abandonando o serviço, estou indo embora do serviço e amanhã não irei vir trabalhar. Quero ser gente, busquei apoio, mas não há condições de resolução. Então, vou embora, para que eu possa viver com meus filhos, porque a polícia vai continuar”. Este foi o desabafo de um Policial Militar de Guarantã do Norte (708 km de Cuiabá), chorando e dizendo que estava abandonando o serviço porque "quer ser gente".

O vídeo foi publicado no início de novembro de 2023 e demonstra que policiais estão adoecendo e o quão importante é investir na saúde física e mental dos agentes de segurança pública.

Assista aqui:





Outro lado
A reportagem tentou ouvir a Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso, mas ninguém atendeu o telefone. O espaço segue aberto para manifestação.

 
 

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