10/11/2023 - 10:03
Redação
Em sua delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid contou que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Jair Bolsonaro, faziam parte de um grupo de conselheiros radicais que incitava o então presidente a dar um golpe de Estado e a não aceitar a derrota para Lula no ano passado. Segundo reportagem de Aguirre Talento, do UOL, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro disse que era testemunha direta das conversas entre o então presidente e seus colaboradores.
Mauro Cid relatou que esse grupo costumava dizer que Bolsonaro tinha apoio da população e dos atiradores esportivos, conhecidos como CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), para uma tentativa de golpe.
De acordo com o tenente-coronel, Bolsonaro não queria desmobilizar os manifestantes golpistas acampados em unidades militares pelo país porque acreditava que seria encontrado algum indício de fraude nas urnas, o que serviria para anular o resultado da eleição. O ex-ajudante de ordens assinou um acordo de delação após ser preso em maio e liberado em setembro.
O plano golpista não avançou devido à discordância dos comandantes militares, conforme o relato do tenente-coronel. Em setembro, Bolsonaro discutiu uma minuta golpista, mas apenas o comandante da Marinha apoiou a iniciativa, enquanto os chefes do Exército e da Aeronáutica se posicionaram contra. O militar cita nomes dos personagens envolvidos, locais e circunstâncias das reuniões mantidas para debater o assunto.
O material da delação premiada está sob análise da equipe do subprocurador-geral da República, Carlos Frederico Santos. Em entrevistas recentes, Carlos Frederico afirmou que Cid não deu provas de suas declarações. “Estamos buscando provas de acordo com o contexto narrado”, afirmou o subprocurador-geral ao UOL.
Segundo a reportagem, Cid relatou que um grupo moderado composto pela ala política do governo tentava convencer Bolsonaro a se pronunciar publicamente sobre o resultado da eleição para pedir que os manifestantes golpistas deixassem as ruas e voltassem para suas casas. Um dos integrantes desse grupo era o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do presidente.
Bolsonaro, no entanto, resistiu a adotar esse posicionamento porque esperava obter provas de supostas fraudes nas urnas eletrônicas ou convencer os comandantes militares a embarcar em uma tentativa golpista. O então presidente da República escalou auxiliares para se dedicar a descobrir vulnerabilidades no processo eleitoral. De acordo com Mauro Cid, Bolsonaro também pressionou os militares a fazer um relatório apontando essas suspeitas de fraudes
Em nota, a defesa de Jair e Michelle Bolsonaro classificou as acusações de “absurdas” e disse que não são amparadas em elementos de prova.
“As afirmações feitas por supostas fontes são absurdas e sem qualquer amparo na verdade e, via de efeito, em elementos de prova. Causa, a um só tempo, espécie e preocupação à defesa do ex-presidente Bolsonaro que tais falas surjam nestes termos e contrariem frontalmente as recentíssimas — ditas e reditas —, declarações do subprocurador da República, dr. Carlos Frederico, indicando que as declarações prestadas pelo tenente-coronel Mauro Cid, a título de colaboração premiada, não apontavam qualquer elemento que pudesse implicar o ex-presidente nos fatos em apuração”, afirmou o advogado Paulo Cunha Bueno.
Segundo o advogado, Bolsonaro ou seus familiares “jamais estiveram conectados a movimentos que projetassem a ruptura institucional do país”. “Lamentavelmente, e de forma insólita na dinâmica processual, à defesa até hoje não foi autorizado o acesso ao conteúdo de tais declarações, a despeito dos constantes ‘vazamentos’ — fortemente criticados pelo referido subprocurador —, havidos em veículos de comunicação, como no caso vertente”, acrescenta Bueno.
O deputado Eduardo Bolsonaro disse, em nota, que a delação já foi classificada como “fraca, inconsistente e sem elementos de provas” pelo subprocurador Carlos Frederico. “Querer envolver meu nome nessa narrativa não passa de fantasia, devaneio”, afirmou.
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