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Morre de câncer o coordenador da Lava Jato em Curitiba

21/05/2021 - 09:24

Redação

Morre de câncer o coordenador da Lava Jato em Curitiba

Foto: Reprodução

Morreu nesta quinta-feira (20) o procurador da República Alessandro José Fernandes de Oliveira, coordenador da Lava Jato em Curitiba. 

Oliveira tinha 45 anos e morreu no Paraná, onde era titular do 15º Ofício, ao qual estão vinculados os processos da chamada Operação Lava Jato, atualmente vinculados ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). 

Ele estava internado em estado gravíssimo desde o último sábado, em tratamento de linfoma no pulmão.

Membro do Ministério Público Federal desde 2004, há nove anos Alessandro Oliveira era lotado da Procuradoria da República no Paraná. Entre 2018 e 2020 atuou na assessoria criminal na Procuradoria-Geral da República, tendo sido o responsável pelo desenvolvimento do Sistema de Monitoramento de Colaborações Premiadas (Simco). No ano passado, ele deixou o trabalho na PGR após permuta interna que o levou à coordenação do trabalho da força-tarefa.

No MPF, o procurador foi conselheiro do Conselho Penitenciário do Estado do Paraná (2011/2013), coordenador da Rede de Controle da Gestão Pública no Estado do Paraná (2012/2016) e procurador regional Eleitoral no Estado do Paraná (2013/2017). Integrou, ainda, os Grupos de Trabalho Medidas Cautelares Reais, das câmaras Criminal (2CCR) e de Combate à Corrupção (5CCR).

Alessandro de Oliveira era graduado em Segurança Pública pela Academia Policial Militar do Estado do Paraná (1993) e em Direito pela Universidade Federal do Paraná (2002). Mestre em Direito das Relações Sociais pela UFPR, era professor em disciplinas com ênfase no Direito Criminal e Processual Penal desde 1996 e docente nas disciplinas de persecução patrimonial e administração de bens na Escola Superior do Ministério Público da União.

Nas redes sociais, o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol lamentou a perda:

A partida de Alessandro, coordenador da Lava Jato, marido e pai de três filhos, aos 45 anos, deixa tristeza e saudade. Ao mesmo tempo, a vida que Alessandro decidiu viver nos deixa inspiração. O episódio que compartilho abaixo, como forma de reconhecimento, é uma ilustração disso.
No fim de agosto do ano passado, passei a refletir com os colegas da força-tarefa sobre quem seria um bom nome para levar à frente a coordenação da Lava Jato. A substituição era importante por conta de um problema grave de saúde na minha família que exigiria bastante da minha atenção.
Imediatamente pensamos em Alessandro, que sempre foi um procurador reconhecido como bastante dedicado. Além disso, ele já havia trabalhado em investigações da Lava Jato que tramitam perante o STF.
Então, liguei para Alessandro e perguntei se ele teria condições e disposição para assumir a Lava Jato. Eu sabia que, na prática, estava perguntando se ele se disporia a segurar uma “bomba” nas mãos.
Alessandro tinha várias razões para dizer “não”. Ele sabia que, se assumisse a operação, lidaria com um imenso volume de trabalho e encararia muitas outras dificuldades. Além dos desafios próprios de investigações e processos relacionados a crimes complexos, Alessandro lidaria com a redução da equipe de trabalho que vinha acontecendo e conduziria a Lava Jato num momento de retaliação contra investigadores e a operação.
Apesar de ter várias razões para dizer “não”, Alessandro respondeu imediatamente à minha consulta, sem qualquer hesitação. Não pediu tempo para pensar, não ponderou prós e contras e sequer perguntou a razão da minha saída. Disse na mesma hora que seria uma honra poder servir a sociedade à frente da operação que admirava e dar continuidade ao trabalho que já vinha sendo feito.
Foi com coragem, espírito público e disposição para o sacrifício pessoal em favor da sociedade que Alessandro assumiu a coordenação no MPF da maior operação anticorrupção da história brasileira. Eu tenho especial razão para agradecê-lo porque foi a decisão dele que me permitiu ter mais tempo para dedicar à saúde da minha família quando isso foi necessário.
Contudo, tenho uma gratidão ainda maior como cidadão. Do mesmo modo que ele assumiu a Lava Jato, com coragem, espírito público e disposição para sacrifícios, foi que ele se portou à frente dela. Quando vieram problemas de saúde, em relação aos quais ele sempre foi bastante reservado, não demonstrou abatimento. Até poucos dias atrás, Alessandro dizia que voltaria o quanto antes para seus trabalhos da operação.
Em outros episódios em sua história anteriores à Lava Jato em Curitiba, ele agiu do mesmo modo. Colegas me relataram, por exemplo, sua pronta disposição em assumir atividades penosas no contexto dos trabalhos da Lava Jato perante o STF.
Ele se colocava nas variadas situações como alguém que trabalharia naquilo em que o Ministério Público e a sociedade precisassem dele. Era alguém pronto a servir.
A vida de Alessandro nos deixa um exemplo de coragem, de espírito público e de sacrifício pessoal em favor da população. Sua determinação em seguir adiante mesmo quando já passava por graves problemas de saúde passa para todos nós uma forte mensagem de que o amor e o serviço às pessoas dão significado e sentido à existência humana.
Deixo a minha homenagem, mas consciente de que, como bem disse a nota de pesar do Ministério Público, “palavras são insuficientes para homenageá-lo. A maior dedicatória que podemos fazer à sua vida é seguir seu legado de destemor, convicção e dedicação ao órgão.”

 
 

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