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Notícias | Executivo

Cinco lições sobre o pleito municipal de 2012

14/10/2012 - 09:47

Francisco Mata Machado Tavares

 A população brasileira foi às urnas no último dia 7 de outubro e conferiu mandato aos representantes que administrarão as nossas cidades entre 2013 e 2017. Encerrado o primeiro turno desse processo eleitoral, já é possível fazer um pequeno balanço das mensagens e lições que as eleições nos revelam. Os cinco tópicos a seguir apresentam hipóteses e conclusões sobre as transformações e os desafios que a política partidária e eleitoral tem vivido.

1) O eleitor quer debate:  o marketing eleitoral brasileiro seguiu, nos últimos anos, a tese de que o candidato que oferece críticas ao oponente costuma ser punido pelo eleitor e, assim, o ideal seria a promoção de campanhas que evitassem referências às diferenças políticas, ideológicas, éticas e programáticas em relação aos adversários. Estas eleições indicam que a realidade é outra, uma vez que, em geral, os eleitores esperam dos seus candidatos um discurso menos opaco e mais assertivo em relação ao que diferencia as candidaturas. O caso de São Paulo exemplifica essa conclusão, ao apontar que os dois partidos mais fortes do país, PT e PSDB, se arriscaram a não seguirem para o segundo turno, ao optarem por adiar a apresentação de críticas e comparações em relação ao candidato Celso Russomano, do PRB, que liderou as pesquisas ao longo de quase toda a campanha. Uma vez criticado e chamado ao debate por seus adversários, Russomano revelou sua fragilidade e perdeu, em uma semana, mais de 12% do seu eleitorado.

2) A descrença diante da política tradicional é crescente: inúmeros elementos sugerem que, em 2012, uma parcela significativa dos eleitores, com destaque para a juventude, expressou descontentamento com partidos e líderes tradicionais. Em Goiânia, por exemplo, a soma de votos brancos e nulos superou o candidato a prefeito que ficou em segundo lugar, alcançando 18,7% das intenções, número que em  2008 fora de apenas 8% . Esses dados devem estimular a ciência política a buscar explicações detalhadas para as respectivas causas. Uma hipótese, aplicável especialmente para o caso de Goiânia, é de que há um descontentamento com os partidos e os políticos enredados em escândalos e denúncias de corrupção.

3) A igualdade política ainda é uma meta distante: uma vez mais, prefeituras e câmaras de vereadores não serão, como deveriam, uma projeção da diversidade nacional. O poder ainda se mantém como um espaço desproporcionalmente ocupado por brancos, homens, egressos das classes média ou alta e com elevada escolaridade. A desigual distribuição de recursos materiais entre candidaturas e a concessão de maior espaço na TV para as legendas que já têm expressivas bancadas na Câmara Federal são dois exemplos de características do nosso sistema eleitoral incompatíveis com a plena igualdade política. Uma reforma política que promova medidas como o financiamento exclusivamente público de campanhas e o voto em listas fechadas poderia aprimorar as nossas instituições, a exemplo do que ocorre em nações desenvolvidas, em especial na Europa.

4) Perdemos uma chance de discutirmos as nossas cidades: a campanha eleitoral de 2012 não expressou o drama e a seriedade da questão urbana no Brasil atual, em especial nas grandes cidades. Temas como o colapso mundial do modelo de mobilidade baseado em automóveis individuais, a especulação imobiliária e o descumprimento da função social da propriedade urbana , ou os danos ao custeio da saúde e da educação causados por práticas de guerra fiscal (hoje exercidas, segundo o IBGE, por 49,5% dos municípios brasileiros) quase não aparecem durante as campanhas eleitorais.  Coin­ci­den­temente, são as questões que mais afetam o dia a dia do eleitor, mas que, por outro lado, podem comprometer os interesses daqueles que custeiam as campanhas de todos os partidos com chances reais de elegerem prefeitos. 

5) O cenário para 2014 ainda é indefinido: sob o prisma da disputa política no Brasil e das projeções para as próximas eleições gerais, o pleito de 2012 não permite conclusões definitivas. Petistas podem dizer que obtiveram o maior número de votos no Brasil (17, 25 milhões). Partidários do PMDB podem comemorar o fato de que governarão o maior número de municípios (1.025 prefeitos eleitos no primeiro turno). Tucanos têm razões para celebrar a presença de José Serra no segundo turno em São Paulo, a vitória parcial de Artur Virgílio em Manaus e a eleição de Lacerda, do PSB, em coligação composta pelo PSDB de Aécio Neves, em Belo Horizonte. O PSB, igualmente, se vale de um significativo crescimento e afirma que já não é uma sombra do PT e de Lula, pois os venceu de modo maiúsculo em Recife e na capital mineira. Em suma, todos os grandes partidos têm armas e recursos para se moverem rumo a 2014 e as eleições municipais de 2012 não permitem que se antecipe nenhum grande derrotado ou vitorioso. 

Francisco Mata Machado Tavares é cientista político, 
professor da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, 
campus de Goiânia. É bacharel em Direito pela UFMG, 
advogado inscrito na OAB-MG, mestre e doutorando 
em Ciência Política pela UFMG e jornalista

 

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