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Abrir capital exige das empresas uma preparação longa e dolorosa

12/07/2012 - 20:11

Ana Paula Ribeiro

O mercado não está favorável para aberturas de capital - a última operação ocorreu no final de abril -, mas a companhia que vislumbra trilhar esse caminho tem que se preparar com muita antecedência para aproveitar "janelas de oportunidade", quando elas aparecem

Segundo especialistas ouvidos, o processo é longo e doloroso na maior parte dos casos. "Mexe com a cultura, força a empresa a ter maior transparência", afirma Paulo Junqueira, diretor de relações com investidores da Unicasa, que fez o IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) há pouco mais de dois meses.

Por mudar a forma com que a companhia se relaciona com o mercado e envolver a adoção de novas práticas de governança e gestão, a empresa leva em torno de dois anos para estar pronta de fato para abrir o capital e lidar com a demanda de analistas, investidores e fornecedores. Esse prazo pode variar de acordo com o estágio de transparência da empresa.

Junqueira conta que a abertura de capital da Unicasa estava no horizonte em 2005, quando foi contratada uma auditoria externa "de primeira linha" para validar o balanço da empresa. Ainda assim, foi apenas em 2010 que a decisão foi tomada. "Foi a partir daí que começou a profissionalização da empresa e a adoção de um conselho de administração", conta.

O sócio da consultoria e auditoria Deloitte, Bruce Mescher, divide um processo de IPO em três fases: preparação, execução (contratação dos bancos coordenadores) e pós-oferta. "O mais importante é a preparação, quando a empresa vai arrumar a casa. É preciso estar confortável na hora de fazer a comunicação com os investidores", diz.

O momento de tomar a decisão de ir ao mercado é um dos mais delicados para as companhias. Maria Cibele Santos, sócia do Siqueira Castro Advogados, lembra que caso seja uma familiar, é a hora de cada envolvido discutir que futuro planejam para a empresa, se esse é o IPO é a saída mais adequada e fazer o planejamento sucessório

O advogado Marcelo Freitas, também do Siqueira Castro, afirma que mesmo que a empresa demore a abrir capital, uma vez que o mercado pode não estar propício a novos IPOs, é importante cumprir todos os requerimentos de uma companhia aberta para "treinar".

"Quanto mais preparada estiver, mais treinada estará na hora que tiver início os "road shows" (visitas a investidores) para o IPO", diz, acrescentando que essas práticas também ajudam no caso de a empresa precisar emitir dívida ou tomar um empréstimo com o BNDES.

Por envolver uma série de áreas, o gerente geral de relações com os investidores da Locamérica, Ronald Stanley Aitken, também vê como longa essa fase de preparação.

O executivo conta que a empresa desejava abrir o capital desde 2005, quando a líder do setor de locação de veículos, a Localiza, fez o IPO. No entanto, esse projeto só começou a amadurecer em 2008, quando o private equity do banco Votorantim entrou no capital da empresa. "Aí começou a real preparação para o IPO", explica Aitken.

No caso da Locamérica, um dos passos mais importantes na fase de preparação foi a adoção de uma melhor gestão financeira. Antes concentrada no curto prazo, a empresa emitiu debêntures para alongar o perfil da dívida. Houve ainda um processo de profissionalização, com a ampliação do número de diretorias de duas para seis, além da adoção de melhores práticas de governança e de processos.

Todas essas mudanças, no entanto, devem ser implementadas de forma eficiente e não apenas para cumprir as exigências de investidores.

O sócio diretor da Mesa Corporate Governance, Luiz Marcatti, afirma que entre 2006 e 2007, quando houve um "boom" de IPOs, muitas empresas abriram capital sem estar de fato preparadas para atuarem como empresas abertas, com a preparação durando até menos de seis meses, mas o mercado percebeu essa falha.

"Hoje há liquidez, mas o investidor está mais avesso ao risco e mais atento. É importante estar preparado para um redesenho na estrutura de poder."

Pensando nisso, o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), irá lançar em até três meses um guia, feito em parceria com a PwC, para enfatizar o trabalho da área de RI após a abertura de capital. "Vimos histórias de empresas que abriram capital mas não tinham áreas adequadas para o atendimento, pós-IPO, dos investidores e potenciais investidores", conta o diretor-adjunto do Ibri, Rodrigo Luz.

 

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