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Cotas avançam para Poder Judiciário

29/06/2012 - 10:29

Maria Gizele da Silva

A instituição de cotas para as chamadas minorias já é velha conhecida em processos seletivos, mas a discussão chega agora ao Poder Judiciário, causando polêmica. É oportuno usar a desigualdade social como um critério de seleção de magistrados? E quem ou qual instrumento legal deve servir para ditar as regras da implantação das cotas?

As políticas de ações afirmativas, nas quais se enquadram as cotas, são recentes no Brasil. Desde os anos 90, surgem leis e programas que favorecem a inclusão de índios, pessoas com deficiência e afro-brasileiros no ensino superior e nos serviços públicos e privados. Em 1995, o acesso aos Poderes Executivo e Legislativo foi incrementado com a cota de 20% para candidaturas femininas nos partidos políticos. Em 1997, essa porcentagem foi, ainda, elevada para 30%.

A proposta de criação de cotas para o Poder Judiciário foi apresentada em junho no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e é de autoria da advogada Juliene Vieira Lima Fagundes Cunha, indígena da etnia kapinawa.

O advogado Valério de Oliveira Mazzuoli, pro­­fessor das áreas de Direito Internacional e Constitucional da Uni­­versidade Federal de Mato Grosso (UFMT), fez a defesa da proposta no CNJ. “Isso é importante porque resgata a cidadania perdida no Brasil e paga uma dívida histórica a negros e índios que sempre foram discriminados e injustiçados”, defende.

Outros poderes

A possibilidade de instituição de cotas para ingresso no Poder Judiciário, abre a discussão sobre a possbilidade de ampliação desta ferramenta para outros poderes. Se a proposta for expandida, criando-se cotas não apenas para candidaturas, por exemplo, mas diretamente para os cargos do Executivo e do Lesgislativo, quais devem ser os impactos?

O presidente da Asso­­cia­­ção dos Magistrados do Paraná (Amapar), juiz Fernando Ganem, vê a necessidade de maior discussão do assunto. “Numa democracia, qualquer pessoa tem a chance de ser eleito, acho que nos cargos eletivos o sistema de cotas setoriza demais o processo”, afirma. Ganem lembra que, nas cotas para mulheres na composição das filiações partidárias, os partidos têm dificuldades para atender à regra porque não há demanda.

Ganem, no entanto, defende a proposta para o Poder Judiciário. “As cotas devem ser estendidas a todos os setores e o Judiciário se inclui nisso”, diz. O vice-presidente de assuntos culturais da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Rosalvo Augusto Vieira da Silva, é da mesma opinião. “A experiência nas universidades tem oportunizado a muitos negros melhores condições de trabalho, acho que isso é um resgate histórico e deve ser utilizado em todos os concursos, para magistrados inclusive”, aponta, lembrando que o assunto ainda não foi internamente discutido na AMB.

O professor de Direito Constitucional na Uni­­Brasil e na Uni­­ver­­sidade Federal do Paraná (UFPR), Clèmerson Merlin Clève, apoia a implantação de cotas no acesso às universidades, porém, questiona a validade do sistema nos concursos no Judiciário ou em outros poderes. “As universidades formam igualmente todas as pessoas para os concursos públicos, portanto, nas universidades o sistema de cotas faz sentido”, opina Clève.

O professor da mesma área na UFPR, Egon Bockmann Moreira, atenta para o fato que a instituição de cotas deve ser bem estudada. “O mais adequado seria que houvesse uma legislação que determinasse a política de cotas, mostrando quanto ela deveria durar e qual a meta ela iria atingir”, comenta, lembrando, no entanto, que a desigualdade existente hoje pode ser agravada com a espera por um instrumento legal.

 

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