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Empresários cobram do governo brasileiro ação contra barreiras da Argentina

12/06/2012 - 13:15

Raíssa Abreu

Representantes de indústrias do Rio Grande do Sul cobraram do governo federal uma posição mais firme contra barreiras impostas pela Argentina a produtos brasileiros. Em audiência pública nesta terça-feira (12), na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), empresários gaúchos relataram prejuízos à economia do Brasil devido a medidas unilaterais adotadas pelo país vizinho.

As relações comerciais se agravaram quando o governo de Cristina Kirchner impôs novas exigências para importação de bens de consumo e adotou como regra que cada dólar importado corresponda à exportação de mesmo valor.

Ao abrir o debate, o presidente da CDH, Paulo Paim (PT-RS), informou que, nos primeiros quatro meses deste ano, as exportações do Rio Grande do Sul para Argentina já registram queda de 10%, com déficit em 36 dos 62 setores de exportação.

O setor industrial brasileiro espera uma atitude mais rigorosa do governo federal, na opinião de Cláudio Affonso Amoretti Bier, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul.

– O governo brasileiro tem sido fraco nas represálias ao governo argentino. O governo da Argentina faz o que quer, tranca as barreiras e gera dificuldades para as empresas brasileiras – disse.

Conforme informou, o bloqueio argentino tem impedido a entrada de máquinas agrícolas já negociadas, muitas aguardando liberação há mais de um ano. No mesmo sentido, Marcos Oderich, diretor comercial da indústria de conservas Oderich, informou que mais de 50 carretas de sua empresa, com 3,6 milhões de latas de milho verde, aguardam para cruzar a fronteira.

– A Argentina não segue as regras da OMC. A cada momento impõe uma nova lei, uma nova prática e não temos uma moeda de troca. Hoje, vivemos em estado de insegurança e prejuízos ­– disse.

Os problemas também afetam outros setores, como o de carne suína, móveis e calçados, conforme informou o deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS). Na opinião do parlamentar, estaria em curso um processo para forçar a transferência de empresas brasileiras para a Argentina.

– Muitas indústrias acreditaram no Mercosul e se instalaram no Rio Grande do Sul. Agora, estão sendo constrangidas a instalar novas plantas na Argentina, para garantir mercado.

Para o deputado, o governo brasileiro é mais sensível aos problemas das indústrias paulistas. O bloqueio a carros fabricados na Argentina, disse, foi adotado assim que aquele país impôs barreiras à entrada de automóveis brasileiros, não sendo verificada a mesma agilidade de resposta quando os problemas são em outros estados.

Mercosul

Na avaliação do professor Newton da Silva Marques, da Universidade de Brasília (UnB), as medidas tomadas unilateralmente pela Argentina representam “um tiro no pé” e podem inviabilizar o Mercosul. Também o economista José Ricardo Costa e Silva criticou a estratégia argentina, a qual, segundo ele, terá graves efeitos negativos no longo prazo.

Para o economista, seria um erro o Brasil adotar medidas de retaliação contra a Argentina, que não resolveriam os problemas das empresas brasileiras e comprometeriam as relações no Mercosul. O melhor, disse, seriam medidas para fortalecer a economia brasileira e a participação do Brasil no bloco, como a desoneração em todos os setores.

Amoretti Bier discorda. Para o vice-presidente da Fiergs, ao não adotar uma atitude forte contra as barreiras argentinas, o Brasil ajuda aquele país à custa de desemprego no Rio Grande do Sul.

Na opinião da senadora Ana Amélia (PP-RS), estaria havendo uma inversão de princípios do Mercosul, que foi criado para que os quatro países membros se integrassem e vendessem para outros mercados.

– O erro foi não ter sido mantido esse princípio de produzir internamente e vender com o selo do Mercosul. Houve uma inversão desse princípio e os países [do bloco] passaram a ser concorrentes – disse.

Para ela, hoje se vive uma guerra comercial, que deve ser enfrentada com instrumentos comerciais, no âmbito da Organização Mundial de Comércio. Ana Amélia também sugeriu que o Brasil imponha à Argentina barreiras ambientais, como as que são impostas quando da exportação de produtos brasileiros à Europa.

No debate, o senador Wellington Dias (PT-PI) lembrou o papel do Rio Grande do Sul nas relações brasileiras no Mercosul e defendeu o fortalecimento do parlamento do bloco, o Parlasul.

 

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