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21/11/2020 - 07:14 | Atualizada: 23/11/2020 - 08:37

Durante a pandemia, exames de retinopatia diabética reduziram 57% em Mato Grosso

A Covid-19 pode deixar mais um triste legado para o País. Por conta da pandemia, a queda na produção de exames para diagnóstico da retinopatia diabética - complicação que ocorre quando o excesso de glicose no sangue danifica os vasos sanguíneos dentro da retina - pode atrasar o início de processos terapêuticos. Com isso, o número de cegos no Brasil pode aumentar no futuro. Essa possibilidade foi constatada pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), que analisou o volume de exames realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para avaliar a presença dessa complicação.

A média nacional de produtividade dos exames para diagnóstico de retinopatia no SUS apresentou uma queda de 36% entre janeiro e agosto de 2020 ano em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com os números informados pelas Secretarias de Saúde Estaduais e Municipais, um total de 3,3 milhões de exames, divididos em quatro diferentes modalidades, foram realizados até agosto deste ano. Mulheres e pessoas com idades de 44 a 80 anos são os que mais deixaram de fazer suas avaliações oftalmológicas na comparação entre períodos.

A divulgação dos números acontece no dia da realização do Projeto 24 horas pelo diabetes, durante o qual o CBO oferecerá à população a oportunidade de participar de sessões de teleorientação com médicos, de forma gratuita. Para contar com o serviço, disponível apenas em 21 de novembro, de 9h às 17h, é preciso se inscrever no site https://www.24hpelodiabetes.com.br , onde há outros detalhes sobre a iniciativa.

Pandemia 
Os dados foram apurados pelo CBO a partir de informações disponíveis do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS). No entendimento do presidente da entidade, José Beniz Neto, a redução no volume de exames de diagnóstico tem relação direta com o afastamento dos pacientes de consultórios e ambulatórios médicos por conta das recomendações de isolamento social decorrentes da Covid-19.

"Esse é mais um triste legado deixado por essa pandemia. Num primeiro momento, os serviços de saúde suspenderam a realização dos procedimentos como medida de segurança. Depois, a população, por medo de contaminação pelo vírus, passou a evitar as consultas, mesmo com a retomada dos atendimentos. Os gestores não têm responsabilidade por esse cenário, mas recai sobre eles o desenvolvimento de estratégias para resolver o problema", avalia José Beniz Neto.

Complicação 
A retinopatia diabética depende de sua detecção precoce para reduzir as chances de comprometimento parcial ou total da visão. Ela acomete pacientes com diabetes dos tipos 1 e 2. De cada três pessoas com diabetes, uma tem algum grau de retinopatia. Do total dos casos, 20% podem desenvolver a forma mais grave, que leva à cegueira.

Em 2019, entre janeiro e agosto, o volume de procedimentos chegou a 5,1 milhões. Houve queda sensível nos quatro tipos de exames disponíveis no SUS - biomicroscopia de fundo de olho, mapeamento de retina, retinografia colorida binocular e retinografia fluorescente binocular. No entanto, os percentuais de perda na produção variaram de 15,2% a 37,9%.

"As consequências desse problema serão percebidas em médio e longo prazos. O paciente - ao retardar o seu diagnóstico e início de tratamento - perde a chance de efetivamente reduzir os efeitos de uma doença degenerativa que, no limite, pode implicar na perda total da visão. Temos que pensar em estratégias para reduzir essa lacuna", alerta o vice-presidente do CBO, Cristiano Caixeta Umbelino.

Desempenho 
Se o ritmo dos atendimentos não for alterado, pelas projeções, o País chegaria a dezembro tendo realizado 4,9 milhões de exames para detectar a retinopatia diabética. Esse seria o pior desempenho desde 2014. Do ponto de vista de distribuição geográfica, apesar da redução no volume produzido ter sido detectada 26 das 27 unidades da federação, as performances foram diferentes.

Dentre as regiões, a que teve o pior desempenho foi a Nordeste, que até agosto desse ano realizou 41% a menor do que em 2019. Na sequência, aparecem o Sudeste, com uma redução de 33%; o Centro-Oeste (-32%); o Sul (-30%); e o Norte, com uma baixa de 17% na sua produção desses exames.

O Acre foi o estado onde, proporcionalmente, o desempenho foi o mais baixo. A queda na produção foi de 72%. A lista das dez unidades com maiores quedas percentuais inclui ainda Roraima e Piauí (-68%), Amapá (-67%), Amazonas (-66%), Paraíba (-63%), Mato Grosso do Sul (-61%), Mato Grosso (-57%), Mato Maranhão (-53%) e Ceará (-50%).

Impacto
Por sua vez, o impacto foi menor, proporcionalmente, no Pará, com menos 6% na produção de exames para retinopatia entre janeiro e agosto desse ano em comparação com o mesmo período de 2019. Com perdas menos acentuadas, também aparecem o Tocantins (-11%), Distrito Federal (-17%), Paraná (-24%) e Goiás (-25%). Somente em Alagoas registrou aumento no volume de exames no período: 43% a mais.

Nos três estados onde houve maior produção de exames para diagnóstico de retinopatia diabética em 2019, as perdas também foram significativas. Em São Paulo, houve uma retração de 29% na produção de exames. Ano passado, durante os oito primeiros meses, o estado havia realizado 1 milhão de procedimentos desse tipo. No mesmo período, em 2020, esse número não passou de 715 mil.

No Rio Grande do Sul, segundo lugar no ranking de produtividade de 2019, a queda proporcional também ficou em 30%. Em Pernambuco, terceira posição, o índice ficou em 34%. Logo após, dentre os quais realizaram exames ano passado, surgem a Bahia, com menos 44% na sua produção desse ano em relação a 2019; Minas Gerais (-33%); e Rio de Janeiro (-44%).

As informações são do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO)


 
 
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