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No dia da Mulher, uma reflexão sobre a Enfermagem, uma profissão majoritariamente feminina

08/03/2020 - 11:56 | Atualizada em 08/03/2020 - 12:02

Simone Peruzzo

Li há pouco tempo atrás um post lançado no facebook que perguntava se a Enfermagem do Paraná se sentia protegida??????

Parei para pensar sob a experiência de quarenta anos atuando como Enfermeira, na área da assistência hospitalar, gestão e academia.

O dicionário da língua brasileira diz que proteção é o cuidado com algo ou alguém mais fraco. Assim sendo, pondero… tal questionamento parte do princípio de que a categoria da enfermagem é fraca?

A categoria é composta por Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem e Auxiliares de Enfermagem que contabilizam mais de 2 milhões de trabalhadores no Brasil e mais de 100 mil trabalhadores no Paraná, majoritariamente mulheres que atuam nos diferentes serviços de saúde públicos e privados sem abrir mão das responsabilidades geradas pelo núcleo familiar.

Assim sendo, estaríamos discorrendo de uma categoria vulnerável e não desprotegida????? Questão de gênero????? Certamente!!!!!!

Apesar dos avanços em nossa sociedade a mulher disputa com o homem em desigualdade no mercado de trabalho, a nível salarial, posições de comando tanto no meio executivo, legislativo e judiciário, quando nas oportunidades, comumente prejudicadas devido à carga familiar imposta na figura feminina, bem como a nível de violências.

Na pesquisa de 2015, realizada pelo Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem em parceria com a Fiocruz, somente 33% da categoria sente-se segura no ambiente de trabalho. Foram consideradas as violências psicológica, física e institucional. O assédio moral por parte dos superiores e as agressões verbais proferidas por usuários e formalizadas por meio de boletim de ocorrência, são violências psicológicas que acometem cerca de 67% da categoria. A violência física, que envolve agressões entre o usuário e o trabalhador, bem como a depredação ao patrimônio, contabiliza cerca de 17%. Nos últimos anos, a agressão ao usuário por parte do trabalhador tem sido noticiada. Situação delicada e certamente constrangedora.

A violência institucional se faz presente na falta de condições apropriadas de trabalho, tais como o quantitativo de suprimentos e equipamentos, número adequado de profissionais estabelecido de acordo com o grau de dependência e complexidade do paciente, bem como na substituição de férias, licenças de saúde e outros afastamentos, efetivo programa de educação permanente, salários dignos, carga horária diferenciada, local adequado de repouso, entre outros.

Engana-se quem pensa ser um problema do empregado e empregador. As condições inadequadas de trabalho na área da enfermagem podem gerar eventos adversos e insegurança no prestar cuidado.

O cenário sócio, político, econômico de uma sociedade capitalista poderia justificar tais violências, mas necessário refletir: como o empregador e a sociedade que assistimos nos distingue?

Não distingue!!! A invisibilidade social foi algo que a pesquisa também apontou.

A opção por ser Enfermeiro não traduz o inconsciente coletivo que insiste em afirmar que o nosso real desejo era ser médico. Ora, estamos falando de profissões distintas e que se complementam. Enquanto o médico faz diagnóstico de doença e prescreve o tratamento, o Enfermeiro presta o cuidado de Enfermagem por meio do diagnóstico de enfermagem baseado principalmente nas necessidades humanas afetadas pela doença.

Previsto por legislação, cabe ao profissional Enfermeiro consultar, prescrever, encaminhar e prestar cuidados mais complexos ao paciente crítico, previstos também por meio de protocolos estabelecidos pelas diferentes esferas de governo e/ou serviços de saúde.

Cabe ao Enfermeiro coordenar a assistência de enfermagem, desempenhada por Técnicos de Enfermagem e Auxiliares de Enfermagem.

Manifestos contrários, que sugerem sermos uma profissão de segunda categoria, incapaz de pensar, fundamentar, discutir, assumir e avançar, mas SERVIR, inclusive a outros profissionais, além de um equívoco grosseiro devem ser considerados tão somente reserva de mercado. Ao inverter a palavra SERVIR e obter as palavras VIR a SER, se ainda não somos, certamente poderemos ser, desde que cada profissional amplie seu conhecimento, aprimore habilidade, desenvolva a empatia, exerça a escuta e mantenha a ética e respeito.

À sociedade, apelamos para o bom senso!!!! Não basta sermos comparados à figura de anjos da saúde, mas apoiar iniciativas, ações e legislação que demostre o real reconhecimento da especificidade que o cuidar exige.

Cuidamos de pessoas nos 365 dias no ano, sábados, domingos e feriados, dia, noite e na madrugada, no frio ou no calor, nas diferentes etapas da vida. Lidamos com a alegria do nascimento,

mas também com a dor da morte e vivenciamos as aflições da falta de investimento adequado na área da saúde, algo que chamamos de sofrimento moral, gerador de doenças ocupacionais.

Mediante esta vulnerabilidade, conhecer o trabalho das organizações de enfermagem seja o conselho, sindicatos e associações técnico-científicas, e participar de maneira proativa e respeitosa é estratégico.

Em 2020, elegeremos novos prefeitos e vereadores. Busquemos coerência entre as promessas de campanha de cada candidato; busquemos conhecer a trajetória profissional e cidadã do mesmo e a real possibilidade em assumir compromissos com a enfermagem. Categoria que neste ano comemora os 200 anos de nascimento de Florence Nightingale, precursora da Enfermagem moderna, e que busca congregar por meio da Campanha Nursing Now Brasil, lideranças políticas das diferentes áreas, organizações e ensino.

Some-se a nós!!!!

Simone Peruzzo é enfermeira e presidente do Coren/PR

 

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