Quarta-feira, 24 de abril de 2024
informe o texto

Notícias | Artigos

“COMO É QUE O CARA VAI VIVER COM R$ 24 MIL?” – A BOLHA DOS SERVIDORES PÚBLICOS

10/09/2019 - 17:37 | Atualizada em 10/09/2019 - 17:40

Rodrigo Constantino

“O senhor me desculpe o desabafo, eu estou fazendo a minha parte. Eu estou deixando de gastar R$ 20 mil de cartão de crédito e estou passando a gastar R$ 8 [mil], para poder viver com os meus R$ 24 mil”.

A fala foi proferida pelo procurador Leonardo Azeredo dos Santos em uma sessão da Câmara de Procuradores do MPMG (Ministério Público de Minas Gerais), no dia 12 de agosto. O áudio na íntegra, com 1 hora e 40 minutos, foi publicado no site da própria instituição.

“Como é que o cara vai viver com R$ 24 mil? O que é que de fato vamos fazer para melhorar a nossa remuneração? Ou nós vamos ficar quietos? Eu não sei se vou receber a mais, se vai ter algum recálculo dos atrasados que possa me salvar, salvar a minha pele. Eu, de qualquer forma, já estou baixando meu padrão de vida bruscamente, mas eu vou sobreviver”, afirmou.

 

O procurador segue no desabafo dizendo que não é perdulário, mas infelizmente “não tem origem humilde” e não está “acostumado com tanta limitação”. Ele cita, entre seus gastos, R$ 4.500 em condomínio e IPTU.

“Vamos baixar mais a crista? Vamos virar pedinte quase? Alguém vai chegar e dizer ‘ora, exagero seu, você não sabe o que é um pedinte’. Mas será que estou pedindo muito, para o cargo que eu ocupo? Será que o meu cargo não merece ter uma remuneração que eu possa pagar o colégio dos meus filhos, por exemplo?”.

O valor de R$ 24 mil citado por ele é uma média dos salários no Ministério Público de Minas Gerais. Segundo o portal da transparência do MPMG, em janeiro, Azeredo recebeu bruto R$ 35.462, 22. Após o descontos, o valor líquido foi de R$ 23.803,50.

Ocorre que, segundo a planilha divulgada na página do Ministério Público mineiro, ele ainda teve direito a indenizações que somaram R$ 42.256,59, mais R$ 21.755,21 em outras remunerações retroativas/temporárias.

Minas Gerais, não custa lembrar, vive uma das piores situações de crise fiscal do país, com parte de pagamentos de servidores públicos atrasados e parcelados. É nesse contexto que o procurador reclama do “miserê” de seu salário.

Os servidores públicos, em geral, e em especial os do Poder Judiciário, parecem mesmo viver numa bolha. Perderam o contato com a realidade. Quem paga seus salários é o povo que tem, como renda média, uma ínfima parte desse montante. Isso os que trabalham, pois há quase 13 milhões de desempregados!

Não nego que, em alguns casos, o sujeito poderia ganhar mais na iniciativa privada. Mas é preciso levar várias coisas em conta: o espírito público da função, que deveria existir; a estabilidade do emprego, já que no setor privado ele correria muito mais riscos; os adicionais e regalias oferecidas pelo estado, que se somam ao ganho bruto; a aposentadoria cheia e antecipada em relação aos que labutam no mercado.

Um casal de servidores públicos desse patamar tiraria mais de R$ 50 mil líquidos por mês, fora os auxílios todos, os complementos, as vantagens. E dormiria tranquilo sabendo que amanhã não poderão simplesmente receber uma carta de demissão do chefe, como ocorre com os reles mortais do setor privado.

Não obstante, o procurador disse que vive à base de remédios, para aguentar essa “miséria” de salário: “Eu e vários outros, já estamos vivendo abaixo de comprimido, abaixo de antidepressivo. Eu estou falando desse jeito aqui com dois comprimidos de sertralina por dia. Eu tomo dois ansiolíticos por dia e ainda estou falando desse jeito aqui. Você imagina se eu não tomasse? Ia ser pior que o Ronaldinho. Alguma coisa tem que ser feita”.

Diante disso, só resta a nós, pagadores de impostos que sabemos das dificuldades de se ganhar dinheiro tendo de ofertar trabalho no mercado, tomarmos um Prozac também, para tentar não cair em depressão profunda…

 

Informe seu email e receba notícias!

Sitevip Internet