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Brasil deve muito a Sergio Moro e aos procuradores da Lava Jato e não deve nada a Greenwald

08/07/2019 - 08:40 | Atualizada em 08/07/2019 - 08:45

Irapuan Costa Junior

Imagine o leitor sua contrariedade se visse amanhã nas redes sociais exposta toda sua intimidade: seus diálogos mais reservados com os familiares, inclusive sua (seu) conjugue; suas fotos particulares; detalhes de seu salário e de suas despesas domésticas; dados de seus veículos; enfermidades de seus pais, e por aí afora. Essas divulgações, no ambiente político e diplomático, constituem a atividade de jornalistas marginais — como Edward Snowden e Glenn Greenwald.

Os desdobramentos dessas revelações — ilegais, diga-se — costumam ser enormes, os prejuízos imprevisíveis, os aproveitamentos indevidos de difícil mensuração. Na maioria das vezes prestam-se a atingir reputações, distorcer fatos, prejudicar inocentes, mesclando-os com culpados. Dificilmente apresentam um fato por inteiro, mas apenas parte dele — a de maior impacto público, que não existiria se revelado na íntegra. Em suma, trata-se de uma forma de jornalismo que não constrói nem esclarece, na verdade. Costuma ser mais desinformação do que informação.

Nem preciso dizer que as últimas vítimas desse tipo de divulgação foram, entre nós, o ministro da Justiça, Sergio Fernando Moro, e os procuradores mais ativos da Operação Lava-Jato, como Deltan Dallagnol.

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Sergio Moro, ministro da Justiça | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O noticiário está cheio. Só quem viveu o Congresso Nacional em seu dia a dia, observou de perto as eleições brasileiras, conheceu a atuação das grandes empreiteiras, de certas indústrias e bancos, saberá, em toda extensão, da corrupção que grassou — e de certa forma ainda grassa — na relação entre esses entes econômicos e deputados, senadores e figuras graúdas do Executivo e Judiciário. Isso desde o governo FHC, quando foi comprada a reeleição do então presidente (e dos seus sucessores).

Nenhum juiz, em mais de duas décadas, teve interesse ou coragem de levantar o véu que cobria a sangria criminosa nos cofres do governo federal. Promotores e procuradores se dedicavam a causas menores, desinteressados ou acovardados. Pela primeira vez, um juiz levanta, de verdade, o véu que encobria a corrupção e leva poderosos à cadeia.

Pela vez primeira, o brasileiro comum fica sabendo como se rouba nas empresas e bancos públicos. Vê o montante desses roubos. Começa a tomar consciência de que esse dinheiro é o que é subtraído da Educação, da Saúde, da Segurança e da Infraestrutura, razão da enorme deficiência nesses setores. Passa a saber quanto custa uma eleição de deputado, senador ou governador e se escandaliza com o volume.

O brasileiro, pela primeira vez, sabe o quanto foi roubado, graças à coragem do juiz Sergio Moro e de alguns procuradores. Coisa nunca vista, também, dinheiro roubado e depositado nos paraísos fiscais é devolvido ao Tesouro.

O juiz e esses procuradores são quem está sob fogo da artilharia — ilegal, repito — desse jornalismo marginal. Quer-se vestir de ilegalidade a comunicação entre as partes do processo. Juiz, promotor e advogado seriam, segundo os divulgadores de má-fé, partes incomunicáveis fora dos escritos dos autos. Principalmente não pode o juiz, sob pena de parcialidade, se comunicar com os procuradores, sofisma esse jornalismo de segunda — ou inferior — categoria, dando voz aos cúmplices dos ladrões condenados e a uma imprensa insatisfeita financeiramente ou ideologicamente distorcida.

Lorotas: cabe ao juiz buscar a verdade, e os procuradores são quem, no caso, a revelam, enquanto cabe aos advogados de defesa, e é assim na democracia, muitas vezes, escamoteá-la ou embaralhá-la, como no caso da Lava-Jato. Mas o juiz também ouve os advogados, quando é para ser estabelecida a verdade. Não foi assim com as delações premiadas? Nessas horas foi o juiz Moro parcial, ao se reportar aos advogados dos delatores?

Leitor, só se pode acusar o juiz Sergio Moro, só se podem acusar os procuradores de buscar a verdade. E a verdade é o que menos interessa aos já condenados, ou aos culpados que estão sendo investigados, julgados e que serão condenados. A verdade não interessa às caixas-pretas não abertas do passado, como a da PEC da reeleição ou não abertas de agora, como a do BNDES.

O Brasil deve muito ao juiz Sergio Moro e aos procuradores da Lava-Jato. Deve também aos advogados dos delatores. São os que buscaram a verdade, e a encontraram, embora fosse apenas uma triste verdade. Tudo mais são tentativas de pescadores de águas turvas. Graças a eles, Moro e procuradores, as grandes empreiteiras não mandam mais, como mandavam, no Orçamento Nacional, na Câmara dos Deputados e no Senado, entre outras instituições.

Graças a eles, já não se rouba (tanto) na Petrobrás e nas demais empresas públicas. Não vai nosso dinheiro de graça para Cuba, Nicarágua, Venezuela, Angola e outros lugares estranhos.

Voltou para cá parte do dinheiro roubado. E graças a eles, Moro e procuradores, pela primeira vez, desde que as esquerdas governam, vemos ricos e políticos importantes julgados e condenados. Todos somos devedores desses corajosos. Estrelismos, extremismos e injustiças porventura havidos hão de ser corrigidos por julgadores isentos. Não atoa as ruas mostram sua solidariedade ao juiz Moro.

E a democracia não é perfeita, mas ainda é melhor que as ditaduras e o populismo, embora esse último também apareça nas democracias. A democracia não é perfeita e às vezes é dolorosa.

Em sua visita ao Congresso, o juiz Moro teve que, democraticamente, numa enorme inversão de valores, sujeitar-se a ser questionado pelas figuras mais abjetas daquela casa, cúmplices quando nada pela omissão, no saque promovido no dinheiro público, com processos (engavetados) nos tribunais superiores, como Renan Calheiros, Humberto Costa e Jaques Wagner.

Os “socialistas” sempre foram mestres na propaganda. Afinal, teriam que ser bons em alguma coisa, já que são péssimos em honestidade, em administrar a economia e promover o bem social, além de desapiedados com os pobres que juram amar. Mas no que diz respeito ao ministro Moro, nem a propaganda, nem o movimento de imprensa que fazem contra ele funcionou. Há uma consciência nacional de que a Lava-Jato foi uma espécie de catarse nacional contra os males que há tanto nos assolam. E ela se personaliza no então juiz, agora ministro. Ele se colocou numa altura moral tão elevada, que as pedras que lhe lançam não chegam até ele. As ruas que o digam.

 

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