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Briga no cabaré

01/10/2018 - 10:43 | Atualizada em 01/10/2018 - 10:47

Jorge Antônio Monteiro de Lima

Gritos, sopapos, humilhação, palavrões, puxão de cabelo… Dedada no olho, pontapés. É o fim de uma pacata noite em que as moças profissionais da noite e do sexo trabalhavam exaustas, fingindo orgasmos, delineando planos para encontrar um bilionário para a manter… É a vida difícil, dando e recebendo duro. Tudo seria uma noite normal, comum há milênios, não fosse a disputa de poder, o velho instinto querendo.

O alvo da disputa no tapa era um jovem rapaz tímido, inocente, calado, um nerd que juntou seu raro dinheirinho tentando uma aventura modesta de uma noite, visto que sua timidez e sua inteligência não o fizeram conquistador. Pelo contrário, era gracejo das moças, que na rua o ridicularizavam.

A rainha do cabaré, vendo a baixaria, divertia-se tragando uma pinga, relembrando seus tempos de emprego de peixeira, e de seu finado cafetão, ex-policial expulso da corporação por ser apaixonado em maus tratos contra quem o olhasse atravessado.

O cenário acima, nas alcovas de Sade, é o retrato de nossa política e dos hábitos de nossa atualidade. Hoje, entre fingimentos de prazer e manipulações, a política e sua putaria institucionalizada tornaram centro do processo eleitoral de propaganda: a baixaria, a ofensa, o denegrir, humilhar e a vontade de aniquilar o adversário, visto como inimigo.

A baixaria é representada no ato de não se apresentarem propostas e de se gastar o tempo da propaganda eleitoral para denegrir adversários. O inimigo que deve ser eliminado. O povo, que adora baixaria, se acotovela buscando o melhor lugar para ver sangue. E o rapaz tímido é o eleitor inocente, tolo, que é alvo da sedução das meretrizes da política. O inocente a ser novamente enganado. Todos querendo os míseros trocados do garoto que na alcova tenta encontrar sua salvação… Rapaz tímido, que jura fidelidade e amor eterno à meretriz, acreditando piamente em sua fidelidade e inocência eternas.

O marketing político da atualidade é temerário, visto que repete à exaustão o que as pessoas estão cansadas de ouvir. As falsas promessas que jamais são cumpridas. A ilusão do orgasmo mágico, fingido, com a típica expressão: já terminou, cai fora. Agora que foi conquistado o que se queria, o voto, você é um estranho, não lhe conhecemos, nem prometemos nada a você. Uma prática recorrente da política brasileira, que ignora a opinião pública e seus movimentos contemporâneos, com os avanços da transparência e da visibilidade.

Na atualidade, o voto de protesto aumenta na busca de uma nova rainha da noite neste cabaré que chamamos de Estado. Outrora Maluf, Tiririca , Macaco Tião, Cacareco e na atualidade Bolsonaro, Caiado, e outras figuras antigas do repertório da alcova, que acabam representando o velho discurso de reforma e mudança – de quem já está no poder há décadas e nada fez de novo. É o retrocesso sem propostas concretas mas com gritos, olhares intimidadores, ameaças veladas, proposta de censura e perseguição. Uma postura truculenta e oligárquica, e seguem os tapas e unhadas no cabaré, tentando se legitimar no grito quem será a velha nova rainha do pedaço.

Mas segue o rapaz tímido, atônito, vendo as putas se estapeando, sangue correndo sem entender o que ocorre. Inocentemente, como típico, o eleitor vai recolocar no poder quem nunca deixa este poder. O eleitor dará sua fidelidade e amor para quem que, assim que

conquistar o que quer, lhe dará um belo par de chifres, o traindo, vide as propostas eleitorais sacramentadas em cartório e registradas, jamais cumpridas. A inocência típica de um corno que vai brigar até a morte, jurando fidelidade a quem lhe colocará um par de chifres.

Jorge Antônio Monteiro de Lima é analista, pesquisador em saúde mental, psicólogo clínico, músico e mestre em Antropologia Social pela UFG. Site: jorgedelima.com.br

 

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