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Raízes corruptas do Brasil (como funciona o sistema)

02/08/2018 - 09:46 | Atualizada em 02/08/2018 - 09:50

Luiz Flávio Gomes

  1. No livro Dinheiro, eleições e poder (Companhia das Letras, 2018), Bruno Carazza mergulhou fundo na análise de uma questão crucial: como os donos corruptos do dinheiro mandam no Brasil, seja comprando o sistema político (ou seja, o poder), seja interferindo no sistema jurídico (particularmente nas Cortes onde os juízes são indicados politicamente).
  1. O sistema político brasileiro (ressalvadas algumas exceções) não é, como muitos ilusoriamente acreditam, um espelho da sociedade. A crença de que os políticos são o retrato do povo é um mito. Os políticos comprados são o reflexo fiel dos que mandam neles e no país (leia-se, dos endinheirados corruptos que financiam suas campanhas eleitorais).
  1. Nossos políticos (ressalvadas as almas boas) não representam os interesses do povo, embora eleitos por ele. Se democracia é o governo eleito pelo povo e para o povo, definitivamente, o Brasil não é uma democracia verdadeira. Nossa democracia é puramente formal (Schumpeter). Acima de tudo, ela é muito venal.
  1. Os políticos (corruptos) cuidam (como qualquer capataz de fazenda) dos interesses daqueles que dão dinheiro para eles alcançarem suas conquistas eleitorais (ou seja, para se manterem no poder). Como temos muitos corruptos no Brasil, somos uma das mais prósperas cleptocracias do mundo (clepto = ladrão; cracia = governo).
  1. Não existe crise de representatividade no sistema político nacional. Os que nos governam, com poucas defecções, representam os interesses (isto é, são despachantes) dos que efetivamente mandam neles e na nação em razão do seu dinheiro (umas 30 famílias e menos de 500 empresas, como explica Carazza no livro citado). São eles os que mais financiam as campanhas eleitorais (tendo assim, acesso ao poder).
  1. Não há como negar que o Brasil é uma plutocracia (governo de alguns endinheirados), desde 1500. A nata excelsa do seleto clube formado por esses ladrões do dinheiro público e da felicidade dos brasileiros não chega a mil pessoas (físicas e jurídicas). É inacreditável como a vontade de mil pessoas se sobrepõe, sem contestação séria, à felicidade e às necessidades básicas de mais de 200 milhões.
  1. A Lava Jato já começou a mostrar as caras de alguns deles. Mas ainda tem muito trabalho pela frente. De qualquer modo, é certo que nenhum clube de ladrões dura cinco séculos sem enraizadas conexões com as instituições do país. Que tampouco cuidam, em geral, dos interesses da população. As instituições são criadas de acordo com o figurino dado pelos interesses prioritários dos criadores.
  1. Isso explica porque nossas instituições (políticas, econômicas, jurídicas e sociais) são muito frágeis, mas ao mesmo tempo extremamente funcionais para a prosperidade do capitalismo de compadrio (de laços, de amizades), desenhado e administrado pela referida confraria de larápios.
  1. A questão não é que o brasileiro não sabe votar. Frequentemente ele nem sequer tem em quem votar com confiança, ética e esperança, porque o sistema se fecha de tal maneira que nem sequer deixa alternativas para a eleição.
  1. A questão grave e muito séria é que, nas cleptocracias, sempre existe um grupo restrito de endinheirados corruptos que compra os políticos (e governantes) para se apoderarem do poder (e do Estado). Esse é o âmago da questão brasileira.
  1. Uma grande parte do Estado brasileiro sempre foi sequestrada por um abjeto clube de ladrões. Aqui reside a raiz corrupta do poder no Brasil. Enquanto não faxinarmos com valentia e firmeza os ladrões, corruptos e aproveitadores que mandam na nossa nação nunca sairemos do subdesenvolvimento. Voto faxina nos políticos corruptos. Império da lei contra os ladrões (sobretudo endinheirados) da República.

Luiz Flávio Gomes é Doutor em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Universidade Complutense de Madri (2001) e Mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da USP (1989). Criador do Movimento Quero um Brasil Ético. Jurista e professor em vários cursos de pós-graduação nacionais e internacionais, entre eles a Facultad de Derecho de la Universidad Austral, Buenos Aires (Argentina), já tendo publicado mais de 57 livros na área jurídica. É também membro da Comissão de Reforma do CP e Professor Honorário da Faculdade de Direito da Universidad Católica de Santa María (Arequipa/Peru). Atuou como Promotor de Justiça em São Paulo, de 1980 a 1983; Juiz de Direito, de 1983 a 1998; e Advogado, de 1999 a 2001.

 

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